quarta-feira

Perrot

Pronto, pronto
Pó?

O prontuário, sr. notário?
- Macário correa -

cada um se chama por onde quer

onomatopeia
onomatopeido: perrot

E durante algumas décadas ainda um cunhado
de francês bebeu
Perrot-sauvignon
da casta Laetitia
Almiscarado, não frutado, pro-seco
Poirot ou Pierrot em francês curricabral

D'atum

Ando
- O italiano -
Ando escrevendo gerúndios i outras cousas muy raras
u2- Udos -
tribo vândala dos povos nortenhos
...

Escrebessemos com literal
com literal idade
das crianças i dos crioulos
aspergindo as cousas tal i como são

São Bento
Ourai por nós
São Benedito
Ourai por nós

I outras lengalengas
Muito rogadas

Mas mallor era mesmo
escreber u falar
O falar linguado dos pescadores

Os Costas
- se fosse com K era grego -

Mal.lorca
Garcia i
uns poucos deles mais

Aspergindunos co' letras
Culatras aspergianas
óvias, totais.

A mãe

Ser educado
Ser educado, não
Por Mamã, Manhe, Mãezinha, Mãe, Mama, Mater, Matéria
de
histeria mamífera
um sacramento de culpa
como dar sem receber
depois de...
que
merecer, apetecer, apertar
lhe
o pescoço

mas só eu, só eu que
que a mãe é minha, é minha

Este laço que nos bonda
um laço próprio, proprietário e inapropriado

Mãe Hassouma!
E ela assoma-se a ventana...

hossana nas alturas.

S'an cousa

Habeis causado celeuma
Altrora era... caloma
De Paloma de Pomba
Lava a pombinha Catrina
Hay poucas dessas brancas
no pintalgadas
Chega-te a Pollença, chega-te a pujança
Comesteis à cucharra, cucharrada
i contas S'an
merecidas
Logradas, contosque rogasteis
al Mar
C'an era il tempo deus
Fidelo au latin.

Co-naissance

Conheço pessoas
que conhecem pessoas

E que pessoas!

Pessoas que conhecem, que

Pessoas que reconheço?

Sem nomes e sem preposições

nascidos, conhecidos

Idos.

L.L

El Sol.
.licitaba

uns rayos de lunar
Plateados
Platicando madres y perolas
i marbles
i o laranja co azul
i o rojo co amarillo

en.contrados
de cores

Platjas amanheçam en mim

ennemi

El Sol.
.licitando a parada
a marcha
i a parada de novo

quinta-feira

O retrato

Porto ao tornozelo a cadena
D’ouro
Pelo tempo
Que me guarda e me prende
E do retrato
Olhar fixo
Lágrimas de tinta
Dentes de chumbo
E de dia
Sobre o azul
Duas luas transladaram
Em faces distintas
Como o fraque
E da mão rolaram
Três patacas
Semeando o ferro
Da terra escura brotaram
As tribos
E a ela voltaram
E a árvore da vida
De cadena amarrada em mim
Balançou
E observou-me
“parteira dos sonhos”
E encarregou-se de me alforriar
Cuspiu fora as folhas
Comandou as raízes rejeitarem a água
E chamou a si o fogo do céu
Decorrendo no tempo
Renasceu como quadro surrealista
Com olhos, dentes e palavras
Foi ela que me viu presa
À cadena dourada
E da madeira dela me fizeram a moldura
Era eu o retrato

segunda-feira

A avó

Não me quero apegar
aop patromónio
ser propriedade
de bem algum.
quero mais os contares
de Maria Miguel
Maria Miguel é viriata,
é hermínia,
é avó.
não sente frio,
fica arreganhada,
arrepia caminho à braseira
come papas de carolo - tarde
senta-se no seu mocho - noite
alembra-se
de acartar os alguidares
à cabeça
sobre a rodilha
nas quelhas
como a palma da mão
e a ela bruxa alguma
lhe passaria a per...
os novelos
nem patêgo nem brugesso
Política? um grande bornal
Deus? um enorme garruço
e quando o sino dobrar
por ela estará
debaixo da terra.

Detesto, como, vomito

Desconfio
dos criadores de copos
sem pé
dos pés
altos
das cadeiras
sem pernas
do infinito
sem ponta nem cabeça
por onde se pegue
o tinto
que de vermelho vi
um antigo pintar
toda uma gama de cores
como um vendedor
de nós
dos dedos
farruscos
enchendo portuguesas
as bocas
castanhas
antes da batatas, antes das crises
como na primeira infância
como castanhas
mas gosto-me
quando importo
os dados de alguém questionado
e o sexo não é M
e o sexo não é F
e o T
de tabela
não consome
a realidade
e o quadro não abarca
gosto quando não cinge
não se finge
quando é ordem é trans
gredida
detesto quando me
obriga
detesto como vomito

sábado

balança, libra, pound

A folha balança
Branca
sob o signo
Libra
o poeta pode, o poeta paga
Pound
[som de bala]
E a folha é acertada pelo disparo da caneta
por entre as ameias da mão
[temo que a memória da poesia seja um carimbo branco]
E planando até ao chão
fez-se a
[ela mesma]
Justiça
Caindo num borrão de tinta
onde se leu:
“A ideia de poesia não me basta”.

sexta-feira

O amigo

O teu nome
guardou em tempos
uma pequena letra
de mim
uma pequena música
cantada
adormecia-me as hostes
e os ouvidos
esses companheiros que ainda me seguram os óculos

terça-feira

A composição de retaguarda

"A composição é uma ideia que se rende
à decomposição,
por exemplo, analiticamente"
dizia Magritte
fumandoi o seu cachimbo
Sei que para citá-lo
nesta composição de retaguarda
teria que ressusciá-lo e
perguntar
"isso que fuma é poesia?"

O comboio

Um dia disseram-me:
"o que há é o que houve e há-de haver"
viveste antes, serás agora e depois
como os comboios
em longos e distantes carris
Pouca-terra, pouca-terra
à volta de uma coisa muito simples.
E redonda.

quinta-feira

O bailado

Cocórocócooorpo
Cocórocócooorpo


Corações ao alto!

O nosso coração está na música…

Corpo que tiraste o pecado

“Bailados os corpos nos enaltecem
Agora e para sempre, fossem, Assim”

Cocórocócoooreografia
Cocórocócoooreografia


Copos ao alto!

O nosso copo está na sincronia…

Sangue de Cristo

“Tomai e bebei, este é o sangue
Encenados sejais, Ode em Paz”.

quarta-feira

gesto

Só ao lado dum gesto sinfónico
Se encontra
A paisagem do bucólico
A paz-palha da devoção
Moça de peito na boca
Sentidos todos no coração
Os alguidares largos
Acartados
Seus braços turvos
E a monção
Pele aconchegada de seda
Actos
Laivos de consideração

sábado

Seria

Gostava de não saber ser
Sendo apenas o que não gosto
Fingindo estar bem
Porque nunca exposto
Estando por gostar
De quem apenas é
Somente por fingir
Não gostar de quem tem fé
Teria eu de me fazer perfeito
Sabendo que bem nem mal
Gostaria da imperfeição
Que só no efeito
dos actos
Póstumo
ao saber-se imperfeito
Estaria sem a minha acção
que deles desfeito
seria minha a composição

Muito ou pouco

Muitos são os que falam
com a propriedade de achar
Acham,os que acham muito,
ter a verdade de falar.
Muitos são os que guiam
com a propriedade de calhar
Calham, os que calham muito,
ter a verdade de guiar.
Muito são os que te avisam
com a propriedade de apontar
Apontam, os que apontam muito,
ter a verdade de te avisar.
Muitos são os que sopram
com a propriedade de agarrar
Agarram, os que agarram muito,
ter a verdade de te soprar.
Poucos são os que calam
com a propriedade de falar
Falam, os que calam tanto,
do sentido de expressar.
Poucos são os que perguntam
com a propriedade de encontrar
Encontram, os que perguntam tanto,
o sentido de caminhar.
Poucos são os que lembram
com a propriedade de recordar
Recordam, os que lembram tanto,
o sentido de continuar.
Poucos são os que te escutam
Com a propriedade de deixar
Deixam pouco, os que escutam tanto,
no sentido de te libertar.

terça-feira

No caminho de casa

Vinda em passadas largas
A minha casa se aproxima
Por essas ruas decalcadas
O verso não se lhe arrima
Indo de pé numa estrada
O vento correndo as faces
Ao longe a música de água
O morcego planando fases
E pousado no meu ombro
Se vira um conselho amigo
És agora livre para o tombo
Só os sapatos andam contigo
E a tua presença que dispara
O alarme forte de um radar
É a tua leveza que já te separa
O caminho do só caminhar
Chegando por fim a casa
O gafanhoto me saúda
Fazendo vénia com a asa
Tocando uma cigarra aguda
E os pássaros do meu beiral
Já não precisam de janelas
Voam entre as portas do sal
Tecendo as flores amarelas
E eu olhando lá para fora
Sabendo que posso chegar
Grito por aí que é agora
O tempo em que vai mudar
E olhando cá para dentro
Sabendo que hei-de chegar
Canto por aqui que é hora
A cama em me que vou deitar

quarta-feira

Ao amante

Com cheiro de mim nestas letras
Te beijo com as minhas palavras
Não temas a minha ausência
Que só ela manifesta a minha presença
E que esta não vai a lado algum
Que não seja ao teu encontro
Quando e onde seja possível
E que deste possível brota
A nossa coincidência, ela mesma
Tão coerente quanto seca,
E dela se emana a nossa diferença,
Tão presente quanto vibrante,
Como a sublimação do querer
A ideia de ti como a tua matéria
A identidade de nós, os amantes
Serei tua casa se o permitires
Tu, em mim, que já moras e habitas
Com desejo de ti nestas letras
Te tomo e te liberto nas palavras
Me mato e te nasço como Eu própria
Com a propriedade que só amar descreve.

terça-feira

Do outro

No lumiar da teias de fumo busco o som para que possa encontra-te distante robusto na casa dos Sete Pecados aonde nada se atém dizer, inquieto como um gato dando voltas no seu lugar a fim de encontrar a postura do seu descanso, deitada no meu jardim o sol carpindo as costelas ateias ou cristãs destes estendidos seres na contemplação, do nada perfeito e do tudo imperfeito, e ao fundo os sons grilados duma guitarra aborrecida com a vida e a fêmea que canta chorando uns olhos castanhos desse amor perdido e os pêlos em riste como se chorassem suores dum tempo ido mas pouco importa já falar quando o maldito foi suplantando na sua terra-mãe a fim de saber que tudo corre como um rio amarelo e a frescura dum verde brotado cosido nas plantas dos pés, arrematado com pontos de verniz vermelho, se percebe esticando a mão e encontrando as pontas dos teus dedos:

Não temas o medo de ser só
Se nós seus filhos, te acompanhamos
Não temas o desamor de ser dó
Se nós seus pais, te amamos
Não temas o frio de estar distante
Se nós seus avós, te escrevemos
Não temas o rancor de ser semelhante
Se nós seus netos, te devolvemos
Não temas o soro de ser querido
Se nós teus amigos, te buscamos
Não temas o ruído de ser menino
Se nós teus professores, te ensinamos
Não temas o sopro de ser esquecido
Se nós teus discípulos, te lembramos
Não temas o torpor de ser findo
Se nós os vivos, te continuamos
Não temas o medo de ser só
Que de medos sós padecemos.

sábado

Da dexteridade

A besta animal ela mesma bem enquadrada
Reconhece o seu código mas detesta-lhe o uso
Corre move corre sorve chora dó grita sai destrói
Escreve em grifo a fim de devorar o santo mais expedito
Urra as palavras montras do sujo debaixo da plateia dos ogros
Sabe a terracota, furaca-se no susto da espiral de horrores todos
Não dou, não pastas, não caminhas em vale de sombras para alcançares
Mal aproveitados no seu sentido Cão, estésico, hipocrático, sufistado
O meu feno é úmeno, o meu gene é húmido, o meu onte é meu
Não ónus não provo não desejo não experimento não concedo
Ele mesmo bem perdido como pérfido qual rio industrial
Porque eu macumbei a ousada estupidez altérica
Histérica dos aparelhos estereofónicos roídos
Sou destra, mas não reconheço a idade

Que o meu cora só a mim a me pertence, não reconheço legitimidade ao oponente, eu sou o Gine e o pilar em seio das minhas próprias aquisições onde as manipulo e as distorço e as tomo, como se coma a vírgula viva de dentro para fora como nas porcas catapultadas no mármore ardo eu deixa-me estar não creias ter levado a mão mais alta, não creias que teres testado a minha ira seja a fuga em frente que o poder da minha ostensiva reparação sobre as hordas de cavaleiros vagos da bolachas e do rosa e do azul, relembrando as velhas vozes do pessimismo da carne pintadas por aquele nomeado como o filósofo donde saiam as larvas e donde caiam os dentes e onde as bestas devoram as estimas e os animais acorrentados pelo contrato que hei-de eu reconhecer há coisas bem mais terríveis que estar só, no sono dos inquietos que buscam a sua negação não te fies em mim para oscular a redenção onde a piedade e o amor devoto foram vociferados aberrantes dum bezerro ciclope.

Do nojo

Um dia acordei esputrefacta
Acreditei que com uma faca e um alicate
Pudesse cortar fora uma perna que não pertencia ali
Acreditei que com uma navalha e uma pinça
Pudesse retirar os seios que não eram dali
Acreditei que com fios de cobre e uma agulhas de crochet
Pudesse re-coser estes bocados de novo no corpo
Mas estava esputrefacta
Eu não sentia nada.
Tudo era pus.
Pus era podre.
Eu era uma gangrena, só cortável não cosível.
Certo é que sabia a razão.
Gostava de me injectar com botulinas vivas,
O simples e o bovino gritavam de patogenicidade,
Gostava de saber que a minha ira cuspia esmegma
O amável e o fóssil destilavam uma certa cropoporfiria
Nada ali era puro.
Puro não era limpo.
Límpido era real.
Real era uma pessoa decantada na dissolução do nojo,
Esse que as pessoas vestem negras por altura da morte.

quinta-feira

La Matter

As palavras-femininas
As âncoras-felinas
Os cantares-fêmea
Os corpos-poema
De mãos dadas o que são?

Um, hum, ano
não é a Humanidade?
um nato oral
não é a Natureza?
um feliz-Sr.contente
não é a Felicidade
um bom-bom
não é a Bondade?

O masculino-selado
Na imanente matéria montado
O feminino-cavalga
Na transcendência substanciado

Demagogias fáceis
Da Repartição das Mentalidades
Instituída por decreto
Da Divisão-Geral das Propriedades

Esta fêmea não quer ser cantada
Por um qualquer tom de Zé
Prefere saber-se e ser contemplada
Não definida pelo é nem pelo não é.

quarta-feira

Eu

Eu vou, eu vou, eu vou, eu vou ser o voo
Eu sou, eu sou, eu sou, eu Soho eu no sonho
Eu tenho, eu tenho, eu tenho, es tanho esta manha
Eu poderia, eu poderia, eu poderia, eu podria ser tamanha
Eu quisesse, eu quisesse, eu quisesse, eu quisesse ser uma outra cor
Eu voaria, eu voaria, eu voaria, eu voaria se eu fosse onde não Iria
Eu estaria, eu estaria, eu estaria, eu histeria se estivesse pia
Eu devo, eu devo, eu devo, eu devo se eu devesse ir vindo
Eu ego, eu ego, eu-ergo, eu-logo, eu-findo.

terça-feira

o barro

E lá vai o barro, nó de argilas:
Se o homem foi feito do barro,
de que foi feita a mulher?

do barro se faz, o barro se lança
o barro quebra, os pedaços muitos
do barro se retira, o barro se molha
o barro se molda, os pedaços fortuitos

da mulher se nasce, a mulher se corre
a mulher que quebra, pedaços incerta
da mulher que solta, a mulher se assusta
a mulher se encarna, os pedaços que liberta

Se eu pudesse responder
afinal, de que é ela feita
teria que saber um tanto de um tudo
despercebendo um pouco de todo o resto
e ai deixaria de saber o que as vísceras me pediam.

segunda-feira

o menino-macho

o menino-macho
faz bichos de 7 cabeças
é um chico buarque sem Holanda
tem uma cabeça de pregos
uma língua de trombetas
uma jangada cheia de pedras
agarra-se às saias da mãe
quando se vê livre
emancipa-se quando se vê
cercado delas
toma o dito por não dito
escreve quadrados
em linhas redondas
acha muito sem saber pouco
e que quanto mais se sabe
mais se ignora, o descampado
não tem tempo a perder
embora ache que anda solto nele
desagrega os quadrantes da carne
achando-se no poder da bactéria
vem com os trópicos cancerosos
num Verão de fogos colocados
ao comando duma qualquer rodela
tirada de um gráfico bioquímico
como se fosse uma ressonância magnética
dos turmores dessas gentes anti-matéria

sábado

Da Técnica

A técnica
Como sublimar o Outro?
Perguntavam-se todos
Pelos tempos idos…
Se no tempo presente
Só me fragmenta
A intemporalidade
Do corrido, escapando-me
Ou bem me convoca
Submetendo-me ao seu
Escrutínio
Designando-me para absorver-me
No seu domínio
Usando o seu Pródigo
Para me definir
Excluindo-me
Das partes, sobrantes
Apontando-me a excomungar
Envagetando-me para me cercar
Na ordinária comunidade
De tudo o que não é especial
Ou bem me arremata
Como se esse Código
Fosse universalmente
Uno, remetendo-me
À implicação conrtinada
Do meu simples encaixe
Como se especificar-me
Numa sua categoria
Bastasse
E se na sua parca etiologia
Não fosse desvanecer-me
A minha mais requerida
Existência
Ou bem me joga fora
Quando os Códigos
E as Espécies misturados
Se forem com as poeira
Mas aí serei eu, bem sei
O mal do seus pecados
Serei a anti-ética
Desse seu telos
Mal estendido no chão
O Bárbaro
Que você gosta de lutar
O marginal
Que você é o epicentro
O doente
Que você gosta de curar
O rasca
Que você gosta de empinar
Como sublimar o Outro?
Responderam todos
Pela Técnica!
E a moderada idade que
Vive no passado
Temendo futuro
Malandro, Preguiçoso e Vilão
Na esteira da auto-geração
Padres, Médicos e Heróis
Sintetizando me na temporalidade
Escorrida capa do Eu

sexta-feira

A Comunicação

Dizer o óbvio nem sempre é fácil
Se a perfeição se torna sua inimiga

Dizer o óbvio nem sempre é tácito
Se a paranóia lhe faz uma intriga

Dizer o óbvio nem sempre é mau
Se a epifania lhe der uma solução

Dizer o óbvio nem sempre é bom
Se a plateia vem em contra-mão

Dizer o óbvio nem sempre é óbvio
Se falar hoje em dia é uma comunicação.

A Foucault

Ler alguém é:
Um exercício simples?
Permite-nos dividir
Garante-NOS
Porque é a mesmíssima
Leitura do EU
Escrever alguém é:
Um exercício complexo?
Permite-nos multiplicar
Exige-nos a criação
Uma Escritura
Ler alguém no que se
Escreve
Ou
Escrever alguém no que se

É dar e tirar a vida num só acto
É poder e saber num só instante
Ser homem livre e governar como deus
É observar neste plano de imanência
A soberania do ser-outro
É o jogo dos ousados
Numa província de medos
A raiz do amor em si mesmo
É sujeitar-se obedecendo
É objectar desobedecendo
É o reflexo sufixado do eu-só

terça-feira

bicho-da-seda

estiquei o olho para fora
do casulo para ver
se via o bicho-torrão
o mau da fita´
tinha-me dado um extorsão muscular...
nas distrofias dos ardores
não nos devemos deixar
arrastar como uma mera lagarta
quando estávamos na fábrica
da seda ao lado das vitrines
de cogumelos do Vietname
tínhamos aulas kantianas
"A fundamentação metafísica das minhoquices"
centenas e centenas de anos
a resistir aos maoísmos virulentos
ensinaram-nos a desprezar
as calúnias infundadas
"Não me metas minhocas na cabeça"
associação excomungada das larvas
na carola morta de alguém
pois que na malvada
prossegue a vida
o bicho explorado
dá seda
e seu casulo é comestível
mesmo lá longe
nas terras dum Apocalipse

sábado

meu querido diário

neste diário não deixo os factos, deixo os relatos:
vou-me na epifania
deixo a maresia
vou nas palavras
deixo as amarras
vou-me no sono
deixo o tomo
vou-me vazia
deixo a Sofia
vou-me na Ângela
não rimo com nada

tanto tempo a tentar esquecer
dei por mim a não lembrar mais
a achar que não tinha por nada
o que o dado esquecido teve
nas gavetas da prateleira
primeira divisão da esquadra
direita da escrivaninha ABC
não tinha nada

encontrei algo
quando se encontra algo é
como montar as cavalitas do avô
como usar saias brancas de pintas vermelhas
como ir aos repuxos de água do jardim bebendo sôfregos
como lembrar os romances esquecidos da bonecas de trapos
como lembrar as brincadeiras de neve e as dos comboios esmagando moedas
lançando foguetes em carris

é como lembrar isto tudo
se esta fosse a exacta verdade
que
se esta fora então
teria de dizer que é como
lembrar o avô louco de Alzheimer
senhor alemão que fugiu do hospício pinhal afora
e a avó partindo lhe a cadeira na cabeça
seria lembrar perder as pernas nas brincadeiras estúpidas
fugindo dos comboios em pontes metálicas
seria como lembrar as amigas e amigos
com quem nunca mais queremos falar
seria lembrar que queríamos mesmo esquecer

mas a poesia foi feita para:
tratar as epifanias.
não para fazer as terapias
porque se assim fosse
ninguém quereria ouvir-me
eu teria de pagar ao público
para cuidar de mim
assim descuidam-me de outra forma
mortalizando os meus relatos
porque ao diário não deixo factos

tanto tempo levei a tentar esquecer
que agora já não consigo lembrar

Pessoa

Por falar em Francês
Vi a pessoa que entrou
Seu vinagrette desamarelado
Verbavando Seu Rimbaud

Por falar em Francês
Vi une pessoa re-alaranjada
Sua Cointreau imperial
Parecia bem-apeçonhada

Por falar em Francês
Vi a pessoa que matou
Seu aspirador-projéctil
Poésie à la cozinha Artaud

Por falar na pessoa
Vi um francês no plateau
Pegando a Poésie-ventríloca
Foi ele que personne matou.

quarta-feira

Terra do Antes

Lá na terra do antes
O amarelo formava o pano de contra-mão
Lá na terra do antes
Os terraços afundavam sem ver o furacão
Lá na terra do antes
Os pedaços de ninguém eram logo do chão
Lá na terra do antes
Os amassos eram mercados de doce mamão
Lá na terra do antes
As galinhas comiam caviar mingau de pão
Lá na terra do antes
O depois foi surrado e morto pelo Então
Lá na terra do antes
Tudo desmoronava se tomava sim com não

navegando à distância

Navio naufragado do amor
Não parte é glória quente
Os peixes brotavam do mar
Como fios de coral da serpente
Oh sereia do mar: meu canto
Teceu sua roupa mais íntima
Como teceria a pele carnuda
Deste pulsante coração
Quem me vem desgovernado
Sem medida para amamentar
As bocas da vida dos amantes
Toda as tropas de luar
Por todos se fazem querer
Me fazem querer andar
Sem dizer aos informantes
Este é meu naufragar

terça-feira

Do lugar

Vai para um lugar
Onde a largura supere o comprimento
E os cumprimentos todos
Eles desnecessários
Superem a altura dos teus contrários
E onde os contrariados
Todos eles necessários
Superem a profundidade dos seus cenários
E onde os cénicos desprovidos de contexto
Superem os santos dos seus relicários
E onde as relíquias com seu pretexto
Alcancem os seus deuses
Dos seus próprios imaginários
Vai para um lugar
Onde não estejas.
Sejas.

A estocástica ficção duma polpa de tomate

E a polpa perguntou:
se o cano for canónico,
a cona é cónica?
Logo
o coma é cómico
logo
a cola é cólica
logo
é lógico?
Ele é trigo
Joio de vivre
Crónica de Portugal
(des) composto
Nome começamos por D
Todos em Linha
Canetas Roxas
Unhas avermelhadas
Duas riscas de luz
7 tiros na Torre
Uma grande avestruz
Mostarda
No sofá
No banco
Na mesa na cadeira
Esparguete com camarão
E a polpa de tomate?
A noite foi dura
Morte de Jane Grey
Tarântula criatura do Lago
- Get Carter -
Massys, Vermeer, Delaroche
I coca so cógita
“Padeceu de paixão ilíaca”
Se eu me vier
Logo vómito
L’Elixir du Mont St. Michel
Le Rhum St. Christophe
La Route de Saint Gapour
E polpa de tomate?
Não se aceite da mãe
A lata da Deeta
Pérola e cigarros
- Revival nights -
AF Inc.
Numa fábrica escondida
Em qualquer Texas
A fachada é a indústria
Duma Polpa de tomate

Da condição

Se a flecha da vida em nada te satisfaz
Se o moinho da Boémia água cereal traz
Se a inércia da física a nada te conduz
Se a ânsia paragem o dilema te seduz
Se no lume molhado a chama descende
Se no vértigo desmoído o fio se desprende
Se da carroça desgovernada o boi não se retarda
Se no baixo insonor a palheta não se agarra
Se o credo do trabalho ao aro não acorre
Se no caderno diário o roto nada foge
Se o andar condicionado na rua não fica
Se a tua vida em nada pratica
É porque o nada com nada se desfaz
Espera!
Eventualmente morrerás.

Tic-tac c'est tactique

Oh Tic-tac:
You make so táctil

Onde estava o tempo
Quando a hora veio embora
Quanta flor-de-minuto
Se este espinho me demora
Quanto pau dessa arara
Voa na linha de prata
Onde estava o espaço
Quando o tempo veio agora
Quanta espada-meto-à-cinta
Se essa régua me esfola
Quando a coça dessa vara
Espalha o sangue da lata
Onde foi o relógio da rosa
Dos ventos da mata
Tic-tac chicote de tempo
Erva daninha brota do cio
Tic-tac do gato-grilo
Palha suja baixo o mio
Tic-atc unhas na carne
Som desgarrado no frio
Tica-tac de neve caindo
Lago segundo de arrepio
Onde estava o anel desflorado,
Quando o tempo me largou no altar?
Quanta era o broto de laranjeira,
Onde a inocência me deixou escapar?
Se o tempo e o lugar
Fogem em dois tempos e em três passos
Vai por aí
Como quem vai
No outro tempo do outro lugar
...
Eles me fazem
Tactique

sexta-feira

o som de fundo interfere na minha televisão

tudo tem um fim?
excepto talvez a própria existência, de tudo, da vida, da coisa
poderíamos ter inexistência
não-ser
uma contradição hegeliana
ou uma lei bioquímica
ou postulado termodinâmico
porque a entropia deste universo
tende a aumentar
e a vida organiza-se pela maior desordem em seu torno
o Caos, esse primordial deus helénico, o protogono primeiro
está no entorno da vida mas não como desordem pura
é que a vida nasce da geração crescente de liberdade
e o nada na variação de espontaneidade gerou
aleatoriamente cisões
como quando se separam dois quarks e eles voltam
ou com muita força geram mais dois
a primeira cisão de Nix, o ovo cósmico
e Erebus, a escuridão
nos órficos
o vácuo, a matéria negra
e depois da cisão, a união
nascem os gases, a luz
e o que conhecemos mais?
pouco mais do que já era...
ou seja sabemos desde diversas teogonias
as metáforas da
perceber a origem de vida
mas e a finalidade da vida?
não seria de esperar ou é tão espontâneo que não tem fim?
ou dizer que não há variação de espontaneidade
seria provar a própria existência de deus?
ou não se coloca questão à Roda nem ao Fio
porque não somos moiras e essa tarefa está acima de nós?
e só os que desceram como Orfeu e voltaram
e os que como Morfeu podem moldar
são atravessados pelo som de fundo
e sabem o que vai dar na televisão

quinta-feira

a quanto está lã?

8 quilos é o peso da excrescência
que vai fora ao beco com um balde
leva-me num carrinho de mão e deita-me fora também...
tudo o que está a mais do que definido como menos é inútil
e tudo o que seja um instrumento de trabalho do teu ser é útil
para que cresça grande e forte e robusto

sê uma ovelha branca e pastosa e leva-te
com o teu cão de guarda que te oriente bem
até que te enterre os dentes no lombo
bem espero que o faça
sou primário e essencialista - eu sou o lobo
admito a vingança e a cobrança, a cólera e o cio

abate-se em mim o infortúnio de ser forçado a admitir
tudo o que as outras peças de lã não admitem
abate-se-me dizer-se que as abato quando
elas só pastam e quando os pastores só lhes levam a lã
se calhar sou ovelha negra ronhosa na família dos gados
quando se abate e não se admite, dedico duas cuspidelas

e que as ovelhas não sejam abatidas mas que nunca mais tenham lã
depois de perdida a função, para que servem a quem só sabe servido?
e o servo desse servir saberá quanto me custa a mim a lã?
saberá alguma do pasto não seguir o cão de guarda?
saberá alguma não se render à tosquia nem à erva?
saberá alguma que não sabe nada com essa vida de gado?

sexta-feira

metáfora do espelho

um ovo chocado por um cão disfarçado de podólogo
brincava com o gato que gostava mais
fazia-lhe tranças nos cabelos que não tinha
por arrancados mas como se fossem colar

ofereceu-o à fada dos dentes perdidos
que trabalhava para os chineses
os pendentes pareciam olhos arrancados
do algodão branco, era ele lavado de neve

fugiu para as amoras doces
o corpo e a boca bordavam
rasgados os gessos às cores
para não tocar no collant rasgado

no século XVIII os abanicos
pareciam pompoms revirados
como numa aula à saída ir jogar à apanhada
um ballet fazia meninas doces

vez uma
era
uma vez
um vez um, um
um vez dois, dois

contrário ao leme

maiores mamas as tem
quem sempre ganha
que amor, graça tem,
as mulheres todas de...
e desamor de crueldade de amor
meu
metades duas
ódio
e amor são
se sei
não e leva-me onde sei
não indolente voo este
ausência tua na que diz-me
só amor meu
ódio e amor do lado outro
p
desfaz-se descarnado metade
há amor um quando
é amor meu
amor de metade outra
ajunto
corra ele que queres
não se jorre sangue nosso
o que queres não se alado demónio
amarras as
solta-me
montanha
na
sozinho paga, submundo, ao amor do raio
o dar atreveu-se que prometeu
este
afrodite te explodi
depois exalei
depois acendi-te
depois respirei
primeiro
acontecer isso foi como
e... metano nu fósforo
de
e oxigénio nu chama
de se consumiu molhado
costa dá largo ao passo
que este amor o é
ser, não poder, não por, é apenas
e é que o tudo que pocilga na
encharque-me que até divagando aí
por vou eu que correr-me
deixa e normal de e paranormal
de sobnatural de
e sobrenatural de relativo
e absoluto de coisa
qualquer menos
sê perdão ou me condeno
imposto desapareciemnto ou te condeno
espião
um ser me condeno vida minha
na inexistência há
te condeno amado
menos ou mais
forte
menos baixo
mais ser a comanda-me
presença tua
amas
tresanda pocilga a ausência
tua na que terra
da coroa impuseste-me
sol de raio que sei não
que é me liberta
mas sente
cora
chora
implora
nasce
morre
te fuga
foge
voa
te muda
sai
ti
detenho como quadratura
em lua e sol
do tenho raiva tanta
e tempo mesmo ao amor
meu
o com criar
e destruir de poema
no como ácidos
em te desfigurar
de ponto ao tanto
odeio
e amo-te
não sabe quem revoltas
as
inodor o desprezo-o
feidade a abstinência
a infelicidade a contracção -a
excursões as incursões
as voltas as
carinho o cheiro
o sexo o corpo -o
descontração -a
estilo-o
beleza
a ti
de tudo odeio
e ti em tudo adoro
deslambido aquele
é amor meu
amor de metade outra
minha
mas proibido
aquele é amor meu
amor de metade outra.

quinta-feira

Semillas sucumbidas a la luna

Bajo la luna fría
Por la noche
Vagueo buscando
Las semillas del algodón
Más blanco y puro
Para que me traiga
Alguien que no conozco
Bajo la luna calda
Por la noche
Me voy buscando
Las semillas del corazón
Puede que alguien las haya
Cogido e tomado
Para que se muera
En mi condición
Bajo la luna oscura
Por la noche
Estoy buscando
Las semillas en un rincón
Puede alguien estar allí
Esperando-me lloroso
Para que le bese los ojos
Y se coja mi perdón
Es que he sembrado
La oscuridad por la noche
Y ya no sé lo que busco
Ni nadie lo sabrá
Y me marcho por la calle
Temblando porque mis lagrimas
No más riegan las semillas
Aunque no paran de jorrar

sopro de vida

quando o sopro da vida me tocou na face
e me deu a essência do lado fêmea
da árvore da vida
esqueceu-se de me dar a calma
quando o sopro da vida me tocou no tronco
e me deu a essência da tormenta
sobre o lago
esqueceu-se de me dar a sensatez
quando o sopro da vida me tocou na mão
e me deu a essência do fogo
sobre o metal
esqueceu-se de me dar a frieza
quando o sopro da vida me tocou no pé
e me deu a essência da marcha
dos fortes sobre o mundo
esqueceu-se de me dar a humildade
quando o sopro da vida me tocou nos lábios
e me deu a essência da soberania
sobre a carne e o éter
esqueceu-se de me dar a sobriedade
quando o sopro da vida me tocou na orelha
e me deu a essência das doze
cordas sobre a manta
esqueceu-se de me dar a ingenuidade
e quando o sopro da vida me insuflou a alma
com a essência do amor
universal e a bola de ouro
esqueceu-se de me dar a chave
é que o sopro da vida se deixou
levar e não me deu os artíficos
que as minhas sete essências podem alcançar
é quando o sopro voltar e me levar a vida
não me toma as essências
que ofereceu mas nem os artíficios
porque eles já não estarão lá

terça-feira

Reify Me

When the wine is red
And the rhythm
Is blue
I loose my mind
And start digging you
Don’t know why
I have this groove
So please
Don’t beg my pardon
If you say no, no, no
Perform my show
Perform this show
And show me what you got
Don’t think you’re ready
For this fellow
Don’t theorize this time
It’s my, my, my business
It’s mine
Operate this thing
Wild thinking
Methodic girl
Metallic girl
Mechanic girl
I’m writing down
A lyric for you
Well, not yet, no
Scotch, scotch, scotch,
Oh, make me fool
Microphone,
Mike O’Phrone
Make a fun, fun, fun,
Call
A gun
A call
A fun
A taste
A booty
Call
Me, papi
Purple hurdle
Pink sweet
Purposely
In a think sink
Spectacle
Spectactor
Spectacularious
Hilarious
Aries haze
So funk, funk, funk

um arguto momento pelo -

pelo:
argumento da experiência
argumento da proporcionalidade
argumento do paradoxo in extremis
argumento da contradição de termos
argumento do exercício de poder
argumento do exercício do prazer
menos:
argumento da idade
argumento do paternalismo
argumento do princípio integral
argumento da crítica radical
argumento da política fraca
argumento da validade escrupular

1 argu tomo mento pêlo -

RED OR DARE

Oh red
Polish
October love
Nail
Poisoned
At red
Light
And red
House
Filth of
Sinners
Melts under
The bridge
Blood
Rivers
Run to the
seaing
I
In the tower
simply
Redding
the garments in
Shape of
S
nails
in heat womb@s
Bleed
Pledge of rain
wash
Crucified stars
away
from planet
Collared
in straw
Barry penalty
read
or There

sons

se o meu orgasmo soasse
seria como os agudos de
clarinete da língua na boquilha se
a minha gravidez soasse
seria como os agudos de
violino da barriga de Bach se
a minha entranha soasse
seria como os graves de
saxofone em coltrano desgarrado se
o meu cérebro soasse
seria como os graves de
contrabaixo em imitação de navio mas se
a minha essência tocasse
nada mais pegava que um charango,
uma guitarra eléctrica, um agogô,
uma cuíca, um tímpano, um fagote,
um oboé, um cravo, um teremim
tocando em experimentação a dissonância cativa-se

sexta-feira

Minha Cabala

Prosa de café
Conversas triangulares-adas
Qual a origem da condição humana?
Qual a relação entre religião, ciência, filosofia, senso comum?
Todas as cosmovisões, todas as formas de conhecimento
Logo de política como governo da vida
E da sua compreensão da realidade para torná-la
Tolerável, comensurável
Depois de política como exercício de poder sobre os recursos
E de forma auto-justificativa a explicação.
De política ainda como delimitação e manutenção de espécie
O bem e o mal, o nós e o outro
As três aplicações do poder de espécie humana sobre o mundo
E o seu padrão
Por altura de Zoroastra e Mani passou a vingar
Nas dicotomias, na linearidade e no monoteísmo
As velhas artes pagãs, públicas, colectivas
Onde os bichos, os homens, os deuses e os espíritos
Habitavam no mesmo espaço-tempo
Foram ocultas e incorporadas na dominação
dos grandes blocos monolíticos do saber e poder
mas coincidindo nos números, nas datas, nas palavras
a humanidade de padronizar tudo,
buscar novos padrões,
analisando-os pelo padrão…
A espécie que vingou no terreno da dominação,
Com as suas artes, ofícios e saberes
E lá fizemos o silogismo e a retórica de encontrar
Pungentes oximoros da informática binária
0 de se evitar acabar a certo ponto
1 de se evitar voltar ao mesmo ponto
A linearidade do vector cujo sentido apenas aponta
Ao futuro progresso mas não só a dois hemisférios
Se fez a história já que
na triangulação há
2 de se evitar desconhecer a razão do ponto
A tese, a antítese, a síntese
dos sistematizadores Hegelianos
caminha de 0 para 1, o paradoxo,
De 1 para 2 e de 2 para 0
Estabelecem o Homem
O ponto, a linha, a superfície do espaço
Desenhando e inscrevendo no símbolo
Do triângulo invertido (o X passado a Y)
Quem caminha de 2 para 1, de 1 a 0 e de 0 a 2
As mulheres fazendo a rotação
da energia no sentido oposto
mas inscrevendo igualmente
o mesmo símbolo mas não invertido
(o X consistente)
Os dois desdobrados do mesmo pensamento,
Estabelecendo esse padrão adquirem as
Três dimensões de espaço
formando a quarta da ampulheta
de dimensão de tempo
e nessas várias ampulhetas
por sua vez desdobradas se
fazem as cadeias das cordas fundamentais
por cada triângulo até aos quatro
somando as 12 casas
mas cuja completude em trino só se adquire
mediante o seguinte no quadrado
3 por 4 e 4 por 3
fazem as cordas fundamentais
do menor e do maior,
a rede do mundo explicável ao humano:
espaço terreno, tempo sensitivo, ´
matéria substantiva, caos etéreo.
Este é o nosso arquitecto:
o padrão sistémico que explica
a condição humana e todas a relações
entre saberes e deles com o poder
e dos humanos no mundo com o universo,
e por isso apenas até às 12 cordas
das casas.
A cada três dimensões multiplicado
por si mesmas, temos os nove números.
A cada par de quadrados, sendo o primeiro
quarto sempre o próximo do seguinte
temos os oito elementos.
Vamos até às doze cordas capazes de reconhecer
oito substâncias inferiores mais quatro das
potenciais superiores, faltam as restantes
quatro: o último quadrado cabala.
E olhando de cima é um círculo
12 casas em grauº por três,
8 elementos de cada trino de ângulo a 45º
4 partes de quadrado em grauºpelos números,
todos iguais a 360º
olhando de dentro é o ponto nulo
do número, da runa, do grau º em si mesmo.

quinta-feira

Vómito, Diarreia, Suor

A Troika da excrecência humana:
Vómito, Diarreia, Suor.
A febre pode ser poética,
O ranho dramático,
e o pus uma forma verbal...
Mas nada supera a combinação que dá direito a uma triologia.
E pensar que em mim me vejo
...cai no poisoning
Pensei que os hedonitas anarquistas eram imunes
ou charmingly auto-imunes
mas talvez
- como em todos os padrões se alcança sempre o paradoxo maior -
sejam os mais vulneráveis
Não por risco, mas determinante, da saúde e falta dela.
Passemos ao narrador.
Tudo começa quando menos se espera como uma invisível gota que cai em potência num copo cheio algo já estaria fragilizado e temos o azar de comer algo catalogado como fresco e até biológico mas que não foi bem curado ou conservado ou cozinhado ora a gente come isto e durante um tempo satisfaz-se e apraz o gosto até dá aquela sensação de enfartamento cardíaco mas depois de umas quantas viagens e a vida e o cansaço de mais do mesmo junto à turbulência é inevitável o primeiro enjoo procuramos ir até ao cubículo sanitário tentar atribuir causas aos efeitos expelir algo à força mas nada e então quando mais se espera novamente já prevenidos pela sensação pegamos no saco recipiente ou qualquer auxiliar salivando a espera é tortuosa e quase já sentimos os suores a taquicardia não da boa mas da tensão quebrada e vai dai já aterramos e já passou o momento e é depois da turbulência que vem o vómito primário aquele de 300 ml que ainda assim já supera o limite internacional é possível que como no meu caso este vómito seja sinalizador de que houve um forte ataque ao sistema embora o anarco-hedonista não tenha e vai dai vomitei já à frente das mãe e do professor provavelmente uma das poucas regras existentes para uma vida minimamente conforme passando a preposição depois ingressados na viagem de volta sobre rodas com menos delongas e chegamos ao destino de um hotel simpático acolhedor dá-se um corrida infernal ao primeiro sanitário disponível para o vómito exorcista aquele que desentope tudo e os sistema sujando tudo em volta procurando livra-se do patogénico infiltrado passados um cigarros e alguma auto-comiseração percebemos que se deu ali alguma alívio indo para o quarto em busca de descanso no descaso da progressão esperando acordar no dia seguinte e eis que se dá o vómito major onde já não há sólidos nem líquidos toleráveis e pensamos “bem algum alívio se deu aqui” mas como controleiros que somos pensamos “é melhor trazer o balde para junto da cama” e trazemos e logo nesta medida de precaução somos surpreendidos pela diarreia ultra-líquida gasosa e putrefacta bom a mérda do agente bacteriano platónico passou a barreira e já nos atravessou à segunda via e voltamos para a cama mas eis que chegámos ao deserto da desidratação bebemos bebemos bebemos bebemos para ver se acalma a coisa litros muitos imensos demasiados só já não é suficiente porque uma vez bem intoxicados vem o vómito do nada para encher o balde aproximado aquele que sai qualquer coisa que entre ar nada água nada o que for altura em que começamos a sentir calor suores frios taquicardias a febre instala-se o delírio é complexo não conseguimos dormir no quarto porque já não passamos da latrina quando fechamos os olhos de tão cansados por breves instantes sonhamos com frutas deliciosas: laranjas, melão, limão, alperces, goiabas, uvas, morangos, framboesas, romãs e a nossa mente devora-os a todos individual e colectivamente acordamos e continuamos com sede e com febre vómito e diarreia e vamo-nos deixando ficar e suamos e sujamos e cheiramos mal começamos a abdicar da individualidade auto suficiente em alguma momento recorrendo aos outros para justificar a ausência a uma ocasião importante recorrendo ao outro para que cuide de nós recorrendo ao outro para admitir que precisamos de ajuda para superar o estado e algum alquimista sensato diz que o processo de exorcização não deve ser interrompido apenas repor o sal mineral etc e tal tomamos um destes de sabor e aroma odiosos de soro eventualmente até nos acalmando ventre igualmente eventualmente temos um belo serviço de quartos que nos traz à caminha o sumo de laranja e as frutas com que sonhámos apetecidas colas para superar a desistência do líquido em nós e repousamos até tare mas até quando acordamos sentimo-nos algo sujos suados o vómito passou mas cheira e há vestígios do crime em mais que um lugar é patético sim tomamos um banho de banheira e tiramos da cara o morto vivo para jantar fora aguenta-se um sopa uns sumos de amora framboesa e uma espécie de aveia do planeta vegan que nem deveria ser chamada de comida queríamos o creme bruille tostado no malte mas achamos que é demais pedindo um miserável sorvete trocado por sabor de canela bastante bastardo razoável mas do qual só vai metade face à sobremesa do outro alguns entretanto deliciados com um pavé de chocolate negro e ruibarbos acabando por nos resignarmos à nossa condição de momento onde o ilustre mete conversa e o menos ilustre da pronúncia peculiar nos explica como foi atacado nas duas vias pelas ostras e rimos rimamos aliás o jantar ainda se aguenta chove torrencialmente porra não mérda disse o ilustre pois que de mérda estava a falar embora controlando tudo e não se controla nada e meteorologia não é especialidade aceitamos dar umas corridas à chuva dando passas num cigarro desfeito acompanha o mestre correr ou andar é o mesmo quando se chega igualmente encharcado [apresento a teoria dos -10º frio bastante frio muito frio ou imenso frio são igualmente abaixo disso sempre o mesmo frio de mérda] voltamos para o quartinho mais quentinho com um adaptadorzinho e bate um soninho e bate o amor líquido da diarreia e lá vamos cem mil vezes ao cubículo mal-cheiroso com o cu em sangue ferido sabendo que é civilizado limpar e lavar aí que nos pomos a pensar o quanto aquele dejecto é amarelo aquoso putrefacto e purulento olhando para ele com a ayenção de quem já está olhando o infinito da sanita reparando que só temos memso é de puxar autoclismo das outras vezes não temos é forças para apertar o botão ou puxar a manivela ou o cordão acabando por co-habitar na mérda mas há um ponto em que já apertamos o rabo controlando a cagada e já nos dói menos o cu e até percebemos que aguentámos o jantar o pequeno-almoço o almoço e outro jantar mais apetecível do tailandês mas era exigir demais ficamos que ele no estômago ainda perto do esófago vamos vendo podemos sentir-nos até bulimic-chic ou escato-limpos bonito é ir à retrete que fica na toillette e escrever uma metáfora de mérda sobre intoxicação alimentar estilo ‘underwater love’ enquanto nos borramos borrifamos rimos rimamos e que esta cena de ‘poisoning’ vai lubrificar varrer a corrupção do sistema proporcionar o novo eu o antigo e assim se faz biopolítica
P.S. só o pensamento de um certo alimento acondicionado ao calor e luz mal confeccionado me dá azia sabendo-me perspicaz pude identificar que era aquela forma mole de ‘pastelaria-pastiche-de-nouvelle-cuisine-muito-cheap’ que me havia dado a volta à entranha estranha manha

Manifesto Anarco-Hedonista

Marxista freudiano contra o platonismo
em vez do Belo, o Bem e a Verdade
o Bom, o Mau e o Vilão
"o desejo que é reprimido é demasiado fraco para ser reprimido"
Pelo corrompido, maculado
pelos anarquistas hedonistas
contra a sinceridade,
como que querer fumar o cigarro
só por não tê-lo!
Queremos combater a hipocrisia
de valores e depois combater os valores;
contra a autoridade que regula o prazer,
o prazer não tem mestre;
demasiado prazer não é deboche
mas felicidade;
"para quê fazer sexo com outras pessoas se podes fazê-lo com quem mais amas?"
e se pensares que isto é uma contradição
ou és estúpido, platónico ou neo-hedonista.
Mais vale um pequeno prazer, que prazer nenhum...
RESSALVA ÉTICA (EMBORA-A-ÉTICA-FODA-SEMPRE-TUDO):
o prazer implica o prazer do próximo porque o
total prazer não pode residir no total desprazer do outro.
Esta é uma das essências do prazer.
CHEGADOS AO PARADOXO: PRAZER x PODER
Remetemos esta questão ao metafísico platónico
que de bom grado se debruce sobre o Absoluto
de cada uma das Ideias.
A escrita do manifesto encerra em si mesmo o prazer,
então deixamos-lhes o debate sobre o prazer terrorista,
o prazer caritativo e o prazer de negar prazer.

sexo pelo fim do trabalho, um direito do caralho
(para os educados judaico-cristãos:
"dá prazer ao outro como darias a ti mesmo")

Coral

Cordão umbilical cortado
da matriz
Cordão humano decepado
de raiz
Cordão de lã-seda limado
de um triz
Cordão de barreiras de coral
condiz
o
condão
de Corão
Al
(de baixo para cima,
no seu reino e glória,
agora e sempre,
Ámen)

terça-feira

2012: Papado de Vulcano X

Hoje sonhei o inimaginável
Morava no Brasil dividido em duas facções política:
O pai e o filho rebelado.
Eu fui raptada pelo Caçador da Noite,
Um australiano louco que me levou para
Um esconderijo subterrâneo
Cada força lutou com o seu séquito.
Apareceu então a Gorda rainha dos Pulgões
Uma vez de boca aberta, os pulgões fluíam rapidamente
Entranhando-se em nós e atribuindo algumas qualidades
Super-humanas mas malignas… As forças só se mantinham
Pelo consumo da juventude, o destino final era a morte.
Atracada entre a Gorda e o Caçador, arquitectei o plano de fuga
Para que ambos se aniquilassem: colocando-me entre os dois,
Esperando pela sinalização vermelha da mira de um na testa da outra,
E dela lançando o seu efeito cortante em cima dele,
jogaria uma cadeira ao chão e caindo nele, morte dupla.
Resultou.
Da garganta degolada dela
(porque o efeito cortante lançado, deveria retornar a ela mas tendo o caçador disparado no meio dos olhos, antes de morto, não encontrou vida e lancetou-lhe o pescoço)
Saíram os pulgões, enfurecidos, descoordenados, sem morada
E temendo esta força e sem saber bem o que fazer lembrei-me do ditado
Da anciã cega “a velha magia da mulher reside nos seus cabelos”
E comi-lhe alguns cabelos caídos.
Depressa me apercebi que estava certa a sentença:
Comendo apenas os cabelos, as células mortas, tínhamos por momentos
a dádiva da força dos pulgões sem o destino final.
Lembrei-me então da razão deste rapto:
A disputa entre facções, o meu pai e o meu avô.
Voltei para a mansão, onde a vizinha me tocava piano enquanto
Eu fazia acrobacias na piscina.
Os poderes davam para triplos mortais e bíceps torcidos incríveis.
Fui delatada.
Rapidamente se alastrou a notícia dos cabelos,
todos os infectados produziam bons cabelos,
rede de exploração de qualidades...
mas a longo prazo, como tudo o que é processamento canibal,
implicava uma espécie de BSE da loucura e luxúria.
Eu mesma carregava uma bolsa de cabelos para consumir quando me cansava...
Mas tudo se tornou numa grande praga
Lembro-me de comer um estranho no sanitário,
de ter a minha irmã a lamber-me os genitais,
de intercalar sexo com vários amigos,
de beijar na boca os meus tios em troca de cigarros...
de me tornar lésbica.
De fazer contraceptivos especiais para elas e collants de griffe
para as penetrações deles.
o collant preservativo de malha ultra-densa
a sociedade ali era estranha, incomodativa e opressiva
a minha escolha sexual era perseguida
e eu mesma já não sabia o que queria
ou se era induzida pela era dos cabelos processados.
e todos acabaram à cata de réstias, de quedas, de cortes
para alimento... e o que era aquilo?
uma espinhosa decadência.
nem política se fazia mais
recordo-me depois de muito pouco.
apenas duma era aquática e de pântanos
num deles via a Lencastre afogar um recém-nascido de cal
mas assim que o tirou, a risada era insuportável
não conseguia matá-lo
lembro-me de surfar nos golfinhos
de pairar nos céus e aterrar
de levarem a velha cega, dos segredos
da Velha Arte numa charrette
se para o fuzilamento se para trabalhar nas minas não sei..
profecia: 2012, Papado de Vulcano X

jogo de plataformas

2050.
O mundo era feito de plataformas, a primeira sobre a água.
Nós, os freaks, descemos até à terra. Mas rebentou uma barragem.
O onda gigante vinha em cima de nós.
Tinha deixado todas as minhas coisas na minha caixa pessoal.
Nadei debatendo-me contra a força da água, agarrada à plataforma de aço.
Eram quase 16 andares...
Sustive a respiração o mais que pude e cheguei ao 1º nível.
Passava imensa gente, o metro, a confusão.
Dirigi-me ao primeiro guichet e pedi que recuperassem o que tinha perdido.
Ela perguntou que número era e dei o meu número de identificação pessoal.
Passado este nível tomei o primeiro metro para o centro da cidade.
Era uma cidade nova mas reconstruída para parecer medieval. Ao andar pelas vendas de rua achámos uma meia rua, que era um beco sem saída, com uma estranha meia porta também.
Depois de entrar, íamos dar à mansão de Luís XVIII.
Esta personagem vestida a rigor com sua peruca e golas brancas, com um mordomo vestido a bom rigor, mantinha na sua sala num cadeirão gigante um ogre de três metros. O monstro estava agrilhoado pelo pescoço, alimentado pelo rei a pássaros. Deu-lhe um albatroz vivo.
Vi o pobre bicho debater-se já no seu esófago, vendo a sua cabeça quase sair-lhe do tórax.
O mordomo levou-nos aos aposentos. Tínhamos mais uma prova a superar. Os quartos trancaram-se por 15 minutos e havia uma armadilha sensível à pressão que teríamos de evitar. Eu vasculhei o quarto todo… Lembro-me que os sobreviventes se reuniram num dos quartos. Uns fingiram dormir, outros, como eu, escondemo-nos por baixo da cama para tentar atacar o rei quando ele entrasse.
Lembro-me dos grilhões e mais nada.
Passámos ao terceiro nível, onde as mulheres e as sábias moravam acima do nível das árvores superiores. A sociedade era feita dumas fibras invisíveis.
Era Natal entretanto.
A minha missão seguinte era fazer um trabalho infiltrado a propósito do rapto de várias estudantes superiores para uma rede de usos sadomasoquistas do submundo onde era sempre noite. Passei a ser loira e amputada da mão direita, fui dar aulas numa dessas escolas. Lembro-me que tive de sair a noite vestida de veludo púrpura com os espetos humanos de metal raspando no chão.
Eles teriam de achar que tinha uma vida dupla para que alguém se aproximasse de mim.

sexta-feira

music fucks my head

I am lost in my Confessions Tour
I am Madonna but I haven’t the power
In me lives an alien and I can’t stand these walls of imagination
My creations start to consume me and I am exposed
My powers are vanquishing
A single mind or society isn’t enough to bear what
my existence is now able to produce
I can’t get no satisfaction,
nor can I stop till I get enough
But yes! I am so tired and damned
Spar me this burden, please
Be careful with what your children listen to.
You wouldn’t want a Maria Magdalena
lost without knowing how to love.

come around

and if that love doesn't come around?
a short story where that love doesn't come around...
that early morning when I don't sleep with a love that came around...
an evening when I don't hold a love... and it didn't came around.
what goes around comes around but it ain't no come around...
and if i go around maybe a love comes down.

um fim não justifica o meio

o poder de rasgar exercido rasgando a íntima
a violência rasgada exercida rasgando o coração
o Outro incógnito coagido rasgado como vítima
a rede que rasga a existida, na rede da coerção
o rasgador que rasga o não-rasgado ou rasgado seria de outro fado
mas se rasgou em contra-mão, não me rasgues na mão!
a pessoa-mercadoria; o sexo-porcaria; o eu-desoníria

amora, framboesa

canto o conto do campo
tanto no corner do tampo
portanto, quanto tem um canto?

aroma de amora demora
na Roma romã me mora
memória no amor em aro
roda na morada o armário

fraternidade na eternidade
de fraga sufraga na etérea
unidade da framboesa
coesa destreza umidade

hedonism

Hedonic … for the pleasure of it
Hedonic … for the pleasure of coming in and eat
Hedonic … for the pleasure of insanit_y-t
Hedonism … for my own ism of his(m) but (her)self _ism

The lost of my religion goes to myself
And the making of my confession goes to my real (is) _m
Where I lay hibernated, came and starred at the own (her) sheep
Of an old-liberal-right of being selfish in the crazy(Lock)ness

frag_menta

E saiu-me da água um recém-nascido
e levei-o para casa, quis cuidá-lo
para que fosse meu!
E em fragmentos de segundos
recordo alguém me querer roubá-la...
E o coração apertou-se: era minha filha.
E quiseram experimentá-la
porque ela crescia excepcionalmente forte
e depressa e logo tinha sete anos
e me contava a sua história.

Eu perdi-me na história.

Minha mãe e eu fomos levadas,
queriam experiências com todas nós.
Tornei-me louca e expus uma terrível insanidade
ao mundo.
Não devia tê-lo feito, não havia espaço para um ser assim.
O meu alter ego, amigo imaginário, ainda não visto,
um mulato branco chamado Luís passou a existir.
E como existiu se tornou no nosso grande torturador.
E queria implatar-me a sua semente mas por amor
à maternidade vinda e ida peguei nas suas poções,
drogas e seringas e usei-as nele como um cocktail motolov.
Não me lembro do que sucedeu...

quarta-feira

anti-palavra

e elE voltou, o anti-palavra.
enviou-me desta vez a Periplaneta Scorpiones.
A insidiosa infiltrava-se em nós.
Penetrou-me a pele em todo o corpo
mas recordo-me do ombro e da ponta da língua.
Todo o grupo abandonado na ilha,
tinha um exemplar na ponta da língua também.
Um dia caçámos um deles e pisámo-lo.
Soltou-se a carapaça e uma pele negra
começou a insuflar-se, numa bolha que
diminuía e aumentava até rebentar.
Da explosão saiu uma assustadora criatura
meio homem, meio duende,
meio barata meio escorpião e disse:
"cortem a língua para que ela saia
e coloquem-na no centro de novo para que vos pique!"
Todos acataram a sugestão mas eu
que raramente ou nunca me corto nas palavras
decidi serrar levemente a língua e extrair a bicha
com uma pinça. Não me doeu. Ao retirá-la veio a veia
e o freio juntos, fiquei sem fala. Não podia avisar
ninguém das minhas e das suaS intenções.

O fim.

A ilha foi colocada em quarentena.
Notícias do Controlo de Epidemias
circulavam na TV mas algo estava errado ali.

Cor Por pre Mente

Tesão de sofá
sufrágio dada
testado na sombra
deslumbra-te já
Dedo estilhaçado
dadaísta Estio
assado no filho
teológo sado
Testa realista
destapada listagem
realmente imagem
magenta pista
Colo cauterizado
irizado no copo
pouco colado
lírio pisado
Esqueleto energético
etéreo esquema
selado me queima
Ésquilo hermético
Animal sentimental
mina anímica
mente bulímica
anima mas sente mal
Símbolo desorientado
origami tentado
Tadeu simplificado
desova pensado
Mulher tri brilhante
molhei a brisa
trilhei a múltipla
anterior amante

sábado

trivial pursuit

Caxemira encaixa a Ira
minha cortada euforia
Diâmetro parâmetro
o dia perde o âmago
Capricórnio o corno de fórmio
do capricho antónimo
Ciência pertença sinética
da potência métrica
Folha desflora a fagulha
aplana o decano da hulha
Religião do rego Paião
relega a rasta de Sansão
Lunar a luva do uivar
o lobo ruivo lombar
Natural o nato da turra
urra o nado na surra
Casamento descasa o momento
no botão cose lento
Chipre no chifre da estirpe
tigre eufrates Etíope
Mona Lisa à tona da Frísia
Lissá átona da Galícia
Lago dos cisnes afago
em chispes Golã trago
Estrela extrema nela
a cela esperma mela
Neto terceiro no tecto
remeto o peito no feto
Dias as horas de Frias
perdias as moras nas rias
Pretória precede a inglória
na proscição prossegue a memória
Indiana do dia da Ana
na indígena estria dama
Pacífico na paz de Sísifo
o Índico Alcatraz tísico
Súbdito do sugo subterfúgio
eu subo no sumo anti-fúngico
Mulher molhada de musgo
mostarda nora de susto
Êxito de hexágono do êxodo
isola a ágono no peso
Festival de fisting em Febo
Safo se fecha no sebo
Verde vergasta de verme
no vértice do CERNE.

sexta-feira

Tontinho

Ó Zé não vás aos figos
que os figos são de água-pé!
O pé molhas nos trigos
olha que os tiros matam o Zé!
Nessas porcas não achas
parafuso bates com as botas
nas portas ser obtuso.
Que as porcas não se lavam
e que de lava já discorres...

Para De ter

Retidão vá de reto
que no meu recto quero ão
Curvas de culpas nas brumas
deturpas as vulvas
Banha na bainha arranha
o banho de aranha
Regaço melado com melaço
regas-me o compasso
Ardente a água no alvor
prudente o ar no ardor
Isauras exauridas nos ismos
dos crivos são gemidos
Vida vibrante viperina
a cobra nem é víbora
Destróis os detritos moídos
nas decalagens só móis
Contraste de contar as hastes
tu contrarias as metástases
Construir o constragimento momento
de conspurcar o cuspo do vento
Tu que teimas em testar
o eu, a noz, o testículo, o trepar
Encerras-me a cera da serra
na mesma encerada terra
Liberdade libertina libélula
da verdade lambida de bétula
Clausura a usura de Clausewitz
na penumbra o Klaus de St. Moritz
Cola na gola o Cáucaso
decora o coltre do Pégaso
Mancha no canal da Manchúria
que mente na onda da fúria
Unida no uno da vida
vulto untado na brida
Ar na arpa do arqueiro
do quero a arte do arteiro
Perder a perca do pardo
do Sado permeia o prado
Encher doente o cheiro
do ente lembro o primeiro
Vazio nas vazas do trio
o frio varado num pio
Transladar os lados do trânsito
no transatlântico âmbito
Multa no tampo da mula
muita se purga na culpa
Acamada a cama da aba
que a camada de campa acaba
Revolução volve no revólver
na resoluta volta do móvel
Menstrual o mês monstro
da Troika menchevique degosto
Negro no freio aperto
do nervo feio o preto
Fantasma fora flâ com asma
fantástico Omã do plasma
Jogar o ganho frugal
o fruto apanho no bornal
Companhia no compasso da CIA
a compra de aço mentia
Farta me falte a fartura
na fronha me farpa a frescura.

Para te alma

Palavra para-lama pára
e lavra na lama
Gosto que resta no rosto
dá um golo no mosto
Resto no refrão do posto
rescaldo reposto
Passagem de passaderia do paço
das passas do maço
Agora no Agosto, eu ajo
que devora o trajo
Olhar o ócio de ópio
com olhos no tópico
Tempo testado no tampo
da tela tem tento
Boca louca mouca
à coca com touca
Comum de como de lona
com comer de cona
Fumo a fome da fama
no fundo da fauna
Espaço de espartilho
do estilhaço espandido
Sentidos, sem ti, idos
de cem sombras servidos
Cadeira de canela madeira
cavada na eira
Azul o azar dá aso
às ondas do mar azulado
Corpo curvado cremado
do campo encorpado
Clitóris na Lua de Clio
clivado no Hórus do cio
Movimento em malvas
maceradas na malga das algas
Marca de Karma na maca
a Arca no mar era parca
Gesto de gelo no cesto
te cedo, o incesto
Imagem imatura imaculada
no íman da margem imaginada
Título de Tito Lívio
do livro mais atípico
Cor me sabes décor
corpo cromado no odor
Cheiro o Che guerreiro
do excerto certeiro
Pêlo poroso pelo
menos penado penoso
Cinza simpática cinzenta
zarpada na Simba de manta
Perto o prego na parede
permeado aperto a rede
Saída à sala com salsa
moída na ala que passa
Escadas são estas que escapam
nas estepes escuras tapam
Sangue Guevara na cera
do siempre sandinista soubera
Mensagem do mesmo incomensurável
demente masmorra amável
Clavícula clemência de clamor
na clave das portas de Sol
Prazer que pasta na pradaria
praga de erva daninha
Cigarro mais simples que siga
na mirra do reis da Síria
Sonho que sopra na fronha
eu ponho na sonda que sonha
Mão de marmelda de mães
com mel barrado de pães
Dentro do dente coentro
no dado eu entro demente
Espera a esperança esfíncter
do espirro da Esfinge
Horas demoradas na hortas
plantadas à nora das tortas
Língua no limbo da gula
saliva na glote de Lura
Aberta na aba da flor
fluoresce a abelha do amor
Espasmo na espera do pasmo
espanta a esfera do orgasmo
Filtro de folha mais fino
fuma o fogo do trigo
Caverna caveira a cova
no óvulo cava a sova
Memória da mesma história
memorando meto-me imprópria

terça-feira

diabos

Ó diabo capeta satanás,
belzebu lúcifer demónio
Vai de reto que esta morada está fechada!
Que continuas tu a fazer nos meus sonhos?
consomes-me toda a energia, todos os amuletos
todas as rezas, todas as bençãos e louvoures
já declarei que para o teu lado não me passo
não me mandes nem servos nem lacaios,
nem insectos nem poções de encantar,
nem sonhos nem pesadelos nem mortes,
nem medos nem temores nem penumbras,
nem sussurros nem forças nem perseguições
Na gola por detrás cosi o primeiro amuleto rúnico
Na frente entre os seios escondi o segundo
Ao pescoço usei o terceiro: o coração dourado
que continha as rimas e pronunciando o teu nome
invertido tiveste de te afastar...
Podes entrar na igreja e encobrir-te
e incorporar-te e seguir-me
Mas à noite nos encontramos para o combate
no mundo de Hipnos, Thanatos e dos mil Onírios
e tu não me vencerás!

sábado

nha korpu sta fitchadu

Vieram caçar-me como uma onça
vieram caçar-me como uma bruxa
vieram caçar-me como uma mulher

o meu sangue escorreu na mata
o meu cabelo ardeu na fogueira
o meu hímen rompeu-se na camisa

penduraram-me na árvore pelos pés
para dar o exemplo às presas
padeci como Prima Notte

e encarnei-as todas soltando-me
e levantei-me coberta de lama
e recolhi as setas envenenadas

lavei o corpo com água de sálvia
cosi a pele com crina de cavalo
das minhas ancas nasceram diamantes

não há máscaras brancas de penas
não há salamandras de cal e lama
não há peixes-gato de seis patas
não há alma que me venha insinuar
...
porque este corpo já está fechado!

walk your line

When the sun rises
on the House of Eight
And the moon is squared
You have got yourself a borderline:

You are the centre of your own universe
And your body is your laboratory and empire
Make it good, visible and useful
Crossover, cross all lines, people
Justify your love, your actions
Be rational, steadily successful
Be aware you will need to suffer
and you will need a near death experience
or a deliberate self-mutilation moment
But you will be good, gentle, passionate
Your goal is to live fast and good
Sometimes you wish to devour everything,
those are the days of hegemonic thinking
Expose yourself if you need to test another
Be a low profile if you can avoid
your temperamental constitution
This is your charm and divine protection
Search deeper knowledges and analyse yourself
Keep control of everything, information is vital
Do not search revenge but feel free
To make an outstanding performance if needed
You have the production, direction, script and leading role,
make your life a worthy movie or stay quiet in your suburban
existence with all the shit of normality passing by your door.

quarta-feira

preto, branco, vermelho

Pensais que meu coração foi talhado
no mármore do Tártaro
mas estais redondamente enganado
Que essa língua de vinagre e fel
Ó bellator bárbaro
não prova do meu leite e mel
Sonegais cuspindo neste chão
a mais dura guerra
sem conheceres outra legião
E batalhais pela anciã moral
com escudos de madeira
mas atenta que a guerra final
É travada à mesa de tabuleiro
com olhares de ferro
e o desfecho certeiro
pertence ao jogador da arte
que dispensa o reino
só pretende jogar: shāh māt!

terça-feira

em cada letra

na esfera de tinta
em cada letra
se imprimem cem mil compósitos que
em cada letra
são pontos em movimento que
em cada letra
se inscrevem com quem escreve
em cada letra
no papel
como a vida
efémero

linhas tecidas à mão
cozidas no forno de pão
caseiras, sumidas
com fermento e pólvora
se explodem,
picantes,
na sinestésica visão
do leitor deliciado

quero imprimir-te os anos
e cem mil poemas na pele
desses olhos tatuados a preto
tintos, meu vinho, minha vida,
beber-te a delicadeza
suave suor
teus beijos de odor
menor meu cheiro, gustavo,
maior teu ser amado,
cercado

caneta-me de tinta permanente
palavra sentida, expressa,
meu café, meu cigarro, meu vício,
detonado
teus seios de amor
filia-me
nas arestas de dor
erotiza-me
cajado de carne
guia-me
no teu interior
sodomiza-me
o ego, a líbido, o córtex

mata-me, impede-me, suga-me
sorvete servido, sorvido
congelado, mantido
mantenho-me
rendido
venero a tua veia,
tua ceia,
vampiriza-me
crucifica o caracter
no teu ídolo majéstico

reinado de terror
governa-me
sanitário ditador
interna-me
na tua camisa de forças
aperta-me
com teu choque eléctrico
manipula
estes cordéis

tua oferenda, esta marioneta,
incerta
sensor infravermelho
carrega
a bateria, fraca,
deste aparelho viciado
mentor angélico
deste cigano diabo
arquétipo maior, aristotélico,
sem género
carnívoro predador
radicaliza-me
no teu oxigénio
em cada letra
do teu gene magnético

quinta-feira

FALO em letras capitais

Tanta vida para trabalhar
Tanto trabalho para viver...
Gosto pouco de ser proletarizada
Ter o capital para me foder
Essa criação mais católica que protestante
Veio providenciar a liberdade individual
Em troca da consagração do pecado de gozar
Aí os corpos orgásmicos não têm existência possível porque não prestam para explorar...
E andam aí a dizer "trabalhadoras do sexo uni-vos"?
Cá eu digo sexólogos do trabalho despi-vos!
venham à rua mostrar-nos
a lei universal do trocadilho:
«se podes fazê-lo, FALO!»

terça-feira

My creations recreate me

why do I need the dope
if I already got myself?
why do I need people
if I have my creations?
why do I need life
if I could rest eternally?
why do I keep perfoming
these maniac acts?
why do I melt inside
these subversive tactics?
why ain't I common
but a fucking bordeline?
I start thinking this is a spider's pattern
or am I the sucked fly?
If I think I am able to satellize and anexate everything
something must have rotten inside me
and my monstrous creations started to recreate me

sexta-feira

My life is my domain

In the Harbour of Fornication
My kamikazes lay
Leaving a trace of destruction
Got license to play
As in the province of devotion
My farmers say
“She is Madame Coercion
Of the cabaret Fay”
If you’re willing of desertion
In my land you may
Sail me as the big ocean
But you have to pay
I’m the screw driver in motion
Mine is the ego highway

quarta-feira

do medo nasce a fé, do poder a morte

Quando chegamos àquele momento
de olharmos com a pele de dentro
o palco que nos sustenta
da alma alheia que nos alimenta
Somos os actores secundários
de decrépitos cenários
Nesta terra ateia
e do podre que nos rodeia
onde todos são moralistas e se perdeu toda a ética
A única metanarrativa
é que nem sempre a verdade é a mais correcta
e nem sempre o silêncio é o menos cruel
sabemos então
que só procuramos a merdosa rendenção,
da mútua diarreia emocional
e de que sozinhos mal
sabemos mijar.
Porque sentimos aquela humana fossa
de querer sempre mais
que em sua versão urbana
é uma mera VONTADE DE FODER...
Existencialistas, socialistas ou comunitaristas
todos se derretem no mesmo molde
e se afogam na coragem líquida
de escolher entre o herói e o vilão.
Mas os piromaníacos mergulhamos sem escrúpulos
no escafandro dos anti-heróis
Mas e porque aceitamos a fossa humana
sabemos que ela é unicamente MEDO, em todas as suas formas:
O medo singular, puro e nu que nos tolda e previne;
O medo plural, do outro, sob o qual agimos e consquistamos;
O medo paradoxal que é o do próprio medo,tão cinético quanto estático
e que se converte frequentemente ao
medo potencial, o que se transfere a uma entidade ou circula na medida de infinito
e é regularmente intitualado FÉ.
A fossa de ser-se humano gerada a partir das artes, símbolos e ofícios
nos fez ao mesmo tempo alimentar o medo e reconhecê-lo
e aí se deu o momento de parir a consciência de ser
e a daí resulta a uma mera VONTADE DE PODER,
que é pouco mais do que a ânsia
dum estado inalcançável de superação do medo
e que só poderia ser formulado na insconsciência ou não-ser,
a morte.

soudotor

Doutor faça-me um favor,
não me chame menina...
É que passo a vida
comendo paradoxos e dá-me azia.

Doutor faça-me um favor
não diga minha senhora...
É que essa é cheia de graça
e eu vendo a vazia na praça

Doutor faça-me um favor,
não chame as autoridades...
É que eu sou medicada
E loucura é sua coutada.

Bem, eu passo a explicar:

Neste domínio hiper_sin ético
Você soa-me tão herm(es)ético
Que não me diz nada de ético
Com esse linguajar ortopé_édico
Do ambiente bioma_édico
Parece-me mais um épico
Para resolver o seu Édipo
Que eu gosto de mim hipo_man_íaca
Dói-me menos a crista ilíaca
Não sei se há prova empty_írica
Mas é uma vida menos Ilíada
Porquê rejeitar um neur_ótico?
O problema é o seu nervo ó[p]tico
Porque na pouso logia do narc(iso)ótico
Olhe, não topo nada pan óptico
Que no meu rádio estere(ó)nico
Eu só ouço disco mnem_ónico
e passo tarde a gint_ónico,
Ó doutor, está cata tónico?!

Maria do Socorro

A menina dos olhos pretos
feitos de carvão
nomeada Maria como a virgem
tem na alma fêmea a liberdade
quando passa bem desfila
quando fuma é esguia
quando se dedica
não se perde nem suplica
inspira os anjos e os santos
e o público aplaude
roda filmes como as saias
ama a todos como ao senhor
dá-lhes o corpo merecido
a lição de sabido
e recebe das luzes
o espírito candente
ao passar ela suja
e imacula todo o sujo
não perdoa nem corrige
manda aprender
dela é o chão
se o pede
na cama se deita
mas não dorme
na boca não beija
mas enconsta
a sua etílica respiração
etérea e sua é Maria do Socorro.

terça-feira

Tartes bem passadas ao sol

Regue 50 quilos de farinha de mandioca com gin tónico.
Não use Gordon's mas sim Bombai.
Tire o gelo, carregue no gin e chupe o limão.
Bata com ovos estrelados.
Vá fazendo conversa com os amigos.
Adicione:
100gr de pseudocarbonato
200gr de natas desnatadas
50gr de adoçante sintético
1dl de leite sem lactose
50gr de manteiga sem colesterol
Coloque a massa em recipiente acrílico mas bata com colher de pau.
Deixe repousar na erva.
Não use aditivos de Angola nem fluídos animais.
Enrole vigorosamente a piada como uma torta e não deixe cair o corpo.
Cozinhe em fornadas a 35º.
Retire enfeitando com paus de neocanela.
Sirva às fatias em protos quadrados.
Decore com pó integral (80% de pele humana).
E está pronto! Dê-se ao disfrute e coma mais quem tiver as mamas maiores.

sexta-feira

a ponta da natureza na boca do corpo aponta a caneta à boca do povo

[raios partam o gama] ó filho!
não há bela sem senão
não há dama sem gamão
não há anos sem festa
não há anus sem festão
não há tuga sem bigode
não há samba sem pagode
não há música sem canção
e não há ponto G. isso é tudo ficção!
não há vida minha sem novela
nem série sem argumento
nem escrita sem moral:
olhe nunca vá comer um daqueles que tem o olho esquerdo mais pequeno que o direito, nem a pila inclinada para esse lado! que não sou contra o torto mas é melhor ir a direito... se me vai conhecer profundamente veja bem que sou superficial e que falarei da vida como uma pessoa comum ... vulgar.
veja lá se passa a palavra! olha olha que já ela vai ali à frente.
e se achar que por comer o mesmo que eu fica assim, descanse que só passando a comida pelo corpo e você depois não se lava porque também não é porco.
ande aguente esta tragi-comédia como quando fode uma horrorosa ... uma vez dentro, relaxa e goza. mas não goze comigo que fico sentida, sabe que sou assim contida. e sabe que gosto de ir lá meter o dedo na situação para ver se a desloco, raios partam a conceição! põe-se a dourar a pílula. acho que deixou agarrar... já volto!

[29 de maio: a irmã lucia queria-me dizer algo, esqueci-me totalmente!]

quarta-feira

amor, temor

temo em dizer lhe amo
se eu nem sei se lhe quero bem
se ao dizer lhe amo
você é que me tem
se ao dizer foi amor
você será meu bem
se ao dizer lhe temo
você diga me tem

labirinto do fausto

Quem me canta melodioso o paradoxo de sereia
Quem me socorre medroso no fumo da teia
Quem me amansa a pele com dores e beijinhos
Quem me enrosca os sentidos e fala mansinho
Inspira-me e expira-me na pele
Intensa e extensa na febre
Consome-me energia
Sem plágio com euforia

terça-feira

no _colo | me _calo

no colo frio da noite
encosto
os pensamentos
e
fecho os olhos para eva.dir
ali.enar
abs.trair
e
fecho os punhos para in.star
ex.pelir
re.trair
e
fecho o coração para in.tuir
es.capar
re.cair
no colo quente da toca
encosto
o cansaço
e
abro os olhos para es.correr
ali.mentar
a.barcar
e
abro os punhos para ina.lar
ex.pirar
re.zar
e
abro o coração para in.dagar
ex.piar
res.ponder
no colo mármore do temor
encosto
o espírito
e
entrego os olhos para me.cegar
mes.quecer
mecho.rar
e
entrego os punhos para mema.nietar
mea.paziguar
mevi.timar
e entrego o coração para me.sangrar
mi.macular
meven.der
no colo áspero da sombra
encosto
a alma
e
lhe beijo
os olhos
os punhos
o coração
e
soprando
na sua boca
a minha re-buscada
existência
lhe cedo
de boa vontade
o amor
e ela me toma
me suga
me descarna
me fuma
nela res.ido
no residual colo
nu
da morte

sexta-feira

dream, dream, dream

All my life I've been dreaming, remembering
Creating another life...
What are the odds?
I dream of other places, times, countries, universes
I dream with music, color, languages, smell, levitation
I dream God, Devil, Buda, Atena and all divinities
I dream mystic, common, historical, alien, prophetic
I created my own imaginary landscape,
I visited lives
I got involved in lives
I saw what I wanted but mostly what I didn’t
...
I guess atoms in perpetual movement
Create infinite dimensions
The atomic here and the atomic there
They lay just here in me and there, everywhere
So, with parts of my brain off and some on
I get a short glance of them
I touch that infinitesimal millimeter of parallel universe
Just here where I’m standing
And I guess my last dream will be of me dying
And I guess it will be easy because I’ll be really dying
Asleep and in both my worlds

So, I’ll die twice
...
And reborn twice
Again

Só cio, só bio

Se o Homem fosse um e pensasse o que pensaria ele?
E se o meu pénis lhe falasse o que diria ele?
...
Per-siga a vagina . tenha orgasmos e ejacule
o mais que puder
tenha erecção e orgasmo fácil. Re-produza-se
tanto quanto puder
Nádegas volumosas . mamas leitosas
engula, imponha, ejacule
tudo o que puder
[Lubrifique-se entre a urina e o esperma]
creio no pénis uno, falo e todo-poderoso.

Se a Mulher fosse uma e pensasse, o que pensaria ela?
E se a minha vagina lhe falasse o que diria ela?
...
Pro-siga revestida e lubrificada . rasgue-se e absorva
o mais que puder
seja menos sensível . parto não é orgasmo. Pro-duza-se
tanto quanto puder
Braços volumosos . pénis leitosos
engula, exponha, absorva
tudo o que puder.
[Escorra-se se ofendida, contraia-se se invadida]
creio na vagina una, sem fala e católica.

quarta-feira

i'm the wife/mother

black hair blue eyes
textil Chicago and Boston
Restaurant of Aquariums
light dress
3 priests, black car, in mountain
one child: "she's wanted somewhere"

sábado

aracne

há o ar
o al á
há o arar
o ar à
areia
há a aranha
a aranha iça
e
arranha
ou
arreia
à
aresta
a res
desta
me resta
aracne
e esta?

quinta-feira

guru sabe

ebas uru
cedera buela
rabuge gaba
5:40
reino, segredo, história, espião, China, Rússia, dragão
allen ginsberg
sfo
naomi's help
elise
1997

quarta-feira

gata branca

gata branca, gata grande
que fala devagar
te lambe e se enrosca
te morde e te arranha
gata branca, gata grande
afogada por longas horas
senti no polegar
lateja pulsação
ela é o meu demónio
meu génio pulsa não
e
naqueles momentos
em que a dor é tão forte que a alma esvai do corpo
e paira na situação
é que os olhos interiores podem observar o que está
lá dentro e sonhar
e
tenho medo da verdade

sábado

idade de ferro

num dia de fim de tarde
quando o crepúsculo é frio, mais cinzento que azul
e as gentes de outra terra revoltadas se levantam
o fogo, a forca e o tridente saem de mãos dadas
e a loucura das multidões vai instalada
e pegam nos homens e lutam
e pegam nas mulheres e cortam
e pegam nas crianças e jogam
e pegam em tudo e correm
e pegam na terra e cospem
e os animais não nos comem?

ai, mas porque andava eu ali, correndo assustado
porque pairava como uma alma penada olhando aquele horror
eu que não vou à matança, vejo o pobre animal a ser caçado,
os ganchos de metal espetam-se no couro, sai o primeiro sangue,
o grito de dor deixa-me assustado...
o metal em brasa crava-se bem mais fundo para marcar a posse
o grito de odor deixa-me nauseado...
e as facadas de metal entranham-se na carne e ele cai por fim

ai, não, é só um pesadelo
já acordei... é só demasiada imaginação
porque tem a minha mente de se lembrar destas coisas?

não, o javali sou eu!

minha é a idade de ferro

roupas de fazenda

vida de corpo negro
não tem paga não
armadilha me caia
roubo me corte a mão
a lua de testemunha
sua negra paixão
no raiar do sol
vergasta de perdão
senhores de mim
me comem o pão
se o planto mas desganho
minha é a escravidão.

terça-feira

morpheu

haguia sofia prata melancia de hermes o três as leis degraus aracne os dentes floresta perdido e amarrado a porta universo de pianos brancos as escadas o sotão e o papagaio as peles tapete vermelho e o quadro um paquete o feto e o corredor a bruxa a freira e o vampiro na casa de pedra a baleia a água a procissão o buda e a levitação o duende a barata e a neve a história o mulato e a tortura o urso branco o lobo e o lago do imperador o elefante a capela naufragada e o ouro persa

quinta-feira

why do bugs keep following me?

please
don't come in my face
I need to breathe
unless you go on
please
don't blow my ear
I need to hear
unless you carry on
please
don't be so cheap
I need to come
unless you're not on
so I ask: why do bugs keep following me?

sexta-feira

palavra que é verbo!

Cortei minha palavra,
No espinho do som.
De forma compassada
Arranquei-lhe o tom.
Ouvindo tamanha mágoa
Gastei o meu dom
Essas suas frases de raiva
Não me trazem o bom,
De escrever, de falar, de cantar…
E eu me sujeito ao verbo,
Se no início é você.
Toquei minha guitarra
Com pautas de Tom,
De maneira gozada
Arranquei-lhe um som.
Ouvindo gerúndios compassos
Saí da fossa, que é bom
Essas notas firmam traços
Poetinha é meu dom,
De escrever, de falar, de cantar…
No início era o verbo
Pois que eu não me sujeito.

a todo o gás

quando tudo se perdeu
o meio nada se encontrou
aquela boca que era existe
nunca mais ficará triste
de noiva não se casou
quando nada se perdeu
um meio tanto se achou
aquela voz que era insiste
sempre escutará ouvinte
de boba não se tomou
e quando a chama acendeu
o meu fogo se expiou
aquela coisa sem limite
me acertando o palpite
de gás não se apagou

encoberto

Malditos sejam os cépticos e os ignorantes do intuir,
Que a Roda se não os persegue, não os pode fazer diluir!
Malditos os Fados incertos, ditados unos de sentença,
Que a mim me atormentam, quais marcas de nascença!
É que a eles não sei escapar, nem forças me arremessam
E que deles não sei duvidar, nem por provas me peçam...
É que a alma embora velha, da encarnação não se livrou
E o destino de ser encoberto, no meu espírito já se encostou.
É que os karmas e as alquimias e as fortunas já me comandam:
Tu, ó Encoberto, serás oculto, serás privado, serás brando,
E tu, ó Encoberto, não poderás, não possuirás e não verás,
Que de dentro da caverna, ó Encoberto, não enxergas, nem sairás

simpatia

em manta de retalhos cosi a simpatia,
na cama a deitei, gentil véu de maria
a música que embala a chama de vela
na cama lhe pinto os sons em aguarela
calor enroscado baixo raio de sol
na cama os risinhos baixo o lençol
pérolas brancas eu perdi, negras ganhei
nessa cama bendita que eu me deitei
borboletas pairam vestida Iemanjá
na cama me beijam seu orishá
oferendas lhe navegam prenhas o mar
na cama se enrolam as ondas do meu colar
amores-perfeitos me sorriem o néctar
na cama paixão só samba o poeta
e se a cama lavada de dia for feita
desta simpatia a oração se endireita

oração da noite

escrevi uma oração em papel rasgado,
na terra plantei, ficou semeado
baixa luz de minha morte a vi em solidão
na terra plantei o meu coração
sozinha que vago, no bucho carrego
na terra enterrei meus filhos de ferro
forças não tenho, não tive, não terei
nesta terra assombrada eu me plantei
do pranto que choro é água com sal
da terra colhi as ervas do mal
das almas assombros me vi assistir
da terra colhi as flores de carpir
da fraqueza me caem os cabelos no chão
da terra colhi as cinzas de adão
e se a terra plantada na noite não cresce
desta oração seus frutos lhe apodrece

diarreia escrita

Os poetas são os filhos da inconstância
os que buscam as verdades subterrâneas,
os que vivem esses amores dramáticos,
os que buscam remédios sistemáticos.
As poetas são as filhas do destino,
as que procuram a grande beleza,
as que a rotina não contenta,
as que a necessidade atormenta.
E os filhos desses poetas lhes herdam a vida toda como uma só.
Tomam nas veias a certeza do caos,
bebem jucosos os frutos da roda,
definham perante a incompreensão
e morrem quando se lhes nega a paixão.
Roem-se vívidos se os temores apertam,
rugem feridos se o mal os espera,
hibernam quando as gentes lhes corroem,
mas nem na morte se destroem.
Eles só temem porque sentem, a vida como se fosse uma só.

por uma ética boazona

O preço da mentira paga-se caro, é uma dívida ad e(x)ternum.
E que importa?!
Eu sofrerei, pagarei com as carnes os delírios da mente.
Sob leves variações, todo o problema da traição é a ausência de qualquer reserva.
Não há pudor, mas mais que uma cesta.
Eu tenho, sou extenso, sou mineral.
Me condeno? Me condenam.
A mentira é tão válida quanto toda a verdade feia.
A espontaneidade e a sinceridade são aqueles defeitos abrasadores... Uma empiria pouco explicável à maioria de nós, os cínicos.
O homem novo só tem uma ética: mede-se aos apalpos, qual belluci

canudos

Ai que não sei se sufoco, se me mordo, se me cuspo...
Que no Verão me sufoco, bem me mordem, vai ao susto
Na cama de qualquer um fazem bem, quem pode
A cama daquele além fazem mal, ou bem que fode
Não há prenhas, nem agasalhos e nem ventos sussurram
Só fogos de lenhas, pequenos retalhos e peles que esturram
Neste sertão de mérda enxuta, só fraco tesão te padece
Que nem com Cunha há beleza, eu clídes, Deus quisesse

9-fora-nada

Se eu nada contemplo, nada me envolve
Sou um nada sem templo, tudo me demove
Se eu nado com tempo, ela me dissolve
Se eu nado, não nado, morto, sou 9

E quem me comenta?
Quem me devolve?
Quem com mãos me tenta,
ou com beijos me chove?

desilusão sorri, tem dentes de chumbo...

despejados

vivo triste como quem mora subterrâneo, vivo triste como quem perde a aposta, vivo triste como quem se perdeu ... de onde mora e não sabe quem mora lá, e triste porque só moro, não vivo, não sabendo que triste é cá.

everlast-ed

In the generation of those, whom seek the underlying surfaces of immortal coils…And on those scar tissues left behind and beyond space-time we shall look at the universe as an equal and the future as the projected selves of a petrified mankind. And others will see how God may be the body where the matrix lies as embedded, and how we pray as cells which do not know how to act, though we know the cancers. And our nanobots are the colonizer aliens, raping the laboratorial beasts. And that huge enterprise we call God, and universe, and higher commander does not know we exist… however not only our human behaviour constructs that archaeological being, as it brings into huge existence the same patterns we reproduce within ourselves and as it is up it is down, in the sense similarities became simple reproductions of what we metaphorically know as divine revenge.

female ground-poetry

Once in a while I’ll trouble your little something,
Provide you with lessons only past could bring.
And let me introduce myself as a tourist from outer space,
Departed from home to show its real place.
Thus in an age of frozen hearts, souls and minds
Many warmed the globe, distracted from signs
Societies used to be made from knowledge
As mankind felt in a high-tech shortage,
And while some afforded playground cyborgs
Surviving through transgenic organs,
Convicted by some artificial intelligences
With no blame, didn’t notice the absences.
Illegal geniuses engineered new babies,
Illegal sexists bought their on ladies.
While all voted eco-assisted euthanasia
Species extinguished for aesthetic pleasure.
So if you watch closely, I’m no Mr. Hide
Please do see beyond present time,
And pose your spirits emergent questions…
Or will you fail to state a need of uniting nations?
And are your biological warriors damaging just the collateral?
Are you the terrorist who poisons you with heavy metal?
So would you still suburban your own crimes
And would you seek lowering other’s poverty lines?
Are you acknowledging sequenced differences,
And capable of socially sharing with persistence?
Do you let starvation develop massive consumption
Or do you feed weapons of mass destruction?
Will you be arrested under those selfish patrols?
Would you dare to forth thirds worlds?
So if you indexate human development with success,
Would your children live longer in happiness?

300 manifests for warring sketches

Like a Spartan crushed at the Hot Gates I do not …
I shall never beg for my life.
Though the curse favors the few standing against many and many more,
These legs will not fade!
In my history, no one shall ever make me rethink my fundamental building.
And my vigorous powers will subsist,
Even if the rain tries to blur my words in a whisper.

But Oh Gods where have you all gone?!
And why do I need to stand here alone?
Am I the one you choose carry the flame?
Aren’t I your child? Who should I blame?

I fight, I fight!
I fight the severe constrictions in the decadence
Of an immortal mind - based empire.
I write, I write!
I make my own right in the absence
Of an universal moral shire.
I might, I might!
I may strongly face the consequence
Of a mortal defying madness.
Too bright, too bright!
To bring out and into your presence
The poisoned fruits you wish to command me.
To the sight, to the sight!
For you all to regard the face
Of the only descending upon the all.
Into light, into light!
To lift mankind to a higher place
Where I live alone and from where you may fall.
Until night, until night!
Until the first song of the ball,
You will only be at a dancing crawl.
I fight, I fight!
And diseases of the blazed,
For thrones to the steering warriors,
I write, I write!
In these pages rest my battle fields,
In my tongue the memorials.
I might, I might!
Acquire grounded power
With a total faked consent
Too bright, too bright!
B(u)y those strategic machineries
The major’s ethic’s absent
To the sight, to the sight!
Massive death communicated
B(u)y any species’ resent
Into light, into light!
My Kind is of no Man’s conception
My mind has no representation
Until night, until night!
My kingdom as no coin or crown
and this mother is not your parent

I fight as to write,
In ways my might,
Is blinded bright
As if your sight
Shadowed in light
Opened wide, though is night.

caminho sonhador

ó sonhador como pairas?
É um caminho fácil de caminhar

No império das figuras encantadas,
dos bonecos e personagens animadas,
dos castelos andantes, com bruxas e fadas,
há guerras de feitiços e velhas armadas,
há cubos de Babel no meio descasados
com cem mil budas andando de lado,
em estreita vereda vão indo no estrado
com o sol ao pescoço e o ventre oleado.
E o Diabo contando a versão de Pilatos,
enquanto o gato gira os pratos,
e o porco e a pupila vão montados
na vassoura, sobreevoam os telhados.
Moram em cristais por cima do ar,
e ilhas-máquina saem do mar,
baleias repuxam nos raios de luar
e sereias-violino esperam voltar.
ó sonhador como pairas? É um caminho fácil de caminhar

judas beijou portugal

O Peixes que não se multiplica,
nem na era do Aquário:
não há milagres de pão,
nem se encena o cenário.
Um(a) Cara de si rectangular
orgulhosamente, só olha o acolá,
não lembra nem é lembrada,
não tem milagres de maná.
Província que não é Provença,
a provação sem providência,
nem divina nem estatal,
em seu cofre, excelência,
sob oliveira de salazar
Judas beijou Portugal.

a primeira versa

a primavera dos povos
a primavera dos parvos
a primavera dos porcos
a primavera dos parcos
a primavera dos corvos
a primavera dos cardos
a primavera dos cornos
a primavera dos carpos
a primavera dos tordos
a primavera dos tacos
a primavera dos torsos
a primavera dos traços
a primavera dos sardos
a primavera das sardas
a primavera dos surdos
a primavera das sarpas

lucrécia

Cada árvore tem a sua seiva,
Mas a tua é a mais
saborosa.
Disse o pai, tinha eu 13 anos,
a rosa…
Ele que era Papa,
o sacripanta de deus
católico
Velho, jarreta, pedia um beijo
alcoólico
Em baixo da sua bata
vermelha. E entre saias,
cinco saias,
metia a cabeça
E pedia, mais uma!
E percorria com língua sarnenta,
A minha sagrada bruma.
Apesar do forte nojo,
pensava no irmão
meu
Ser puro destilado, o gozo que me deu.
E o velho decrépito gemia,
E eu à realidade voltava,
Lentamente eu morria
E tantas vezes chegava,
A pensar…
que até gostava.
Embora ideias fazia,
Que de mais onze irmãos
As carnes o velho percorreria,
Com tais sujas mãos.
E então ele lambia, freneticamente,
Como quem sabia
e gritava
Vem a mim Lucrécia!
E eu só pensava
Pior dos sodomitas
da Grécia.