sábado

idade de ferro

num dia de fim de tarde
quando o crepúsculo é frio, mais cinzento que azul
e as gentes de outra terra revoltadas se levantam
o fogo, a forca e o tridente saem de mãos dadas
e a loucura das multidões vai instalada
e pegam nos homens e lutam
e pegam nas mulheres e cortam
e pegam nas crianças e jogam
e pegam em tudo e correm
e pegam na terra e cospem
e os animais não nos comem?

ai, mas porque andava eu ali, correndo assustado
porque pairava como uma alma penada olhando aquele horror
eu que não vou à matança, vejo o pobre animal a ser caçado,
os ganchos de metal espetam-se no couro, sai o primeiro sangue,
o grito de dor deixa-me assustado...
o metal em brasa crava-se bem mais fundo para marcar a posse
o grito de odor deixa-me nauseado...
e as facadas de metal entranham-se na carne e ele cai por fim

ai, não, é só um pesadelo
já acordei... é só demasiada imaginação
porque tem a minha mente de se lembrar destas coisas?

não, o javali sou eu!

minha é a idade de ferro