sábado

Muito ou pouco

Muitos são os que falam
com a propriedade de achar
Acham,os que acham muito,
ter a verdade de falar.
Muitos são os que guiam
com a propriedade de calhar
Calham, os que calham muito,
ter a verdade de guiar.
Muito são os que te avisam
com a propriedade de apontar
Apontam, os que apontam muito,
ter a verdade de te avisar.
Muitos são os que sopram
com a propriedade de agarrar
Agarram, os que agarram muito,
ter a verdade de te soprar.
Poucos são os que calam
com a propriedade de falar
Falam, os que calam tanto,
do sentido de expressar.
Poucos são os que perguntam
com a propriedade de encontrar
Encontram, os que perguntam tanto,
o sentido de caminhar.
Poucos são os que lembram
com a propriedade de recordar
Recordam, os que lembram tanto,
o sentido de continuar.
Poucos são os que te escutam
Com a propriedade de deixar
Deixam pouco, os que escutam tanto,
no sentido de te libertar.

terça-feira

No caminho de casa

Vinda em passadas largas
A minha casa se aproxima
Por essas ruas decalcadas
O verso não se lhe arrima
Indo de pé numa estrada
O vento correndo as faces
Ao longe a música de água
O morcego planando fases
E pousado no meu ombro
Se vira um conselho amigo
És agora livre para o tombo
Só os sapatos andam contigo
E a tua presença que dispara
O alarme forte de um radar
É a tua leveza que já te separa
O caminho do só caminhar
Chegando por fim a casa
O gafanhoto me saúda
Fazendo vénia com a asa
Tocando uma cigarra aguda
E os pássaros do meu beiral
Já não precisam de janelas
Voam entre as portas do sal
Tecendo as flores amarelas
E eu olhando lá para fora
Sabendo que posso chegar
Grito por aí que é agora
O tempo em que vai mudar
E olhando cá para dentro
Sabendo que hei-de chegar
Canto por aqui que é hora
A cama em me que vou deitar