sábado

nha korpu sta fitchadu

Vieram caçar-me como uma onça
vieram caçar-me como uma bruxa
vieram caçar-me como uma mulher

o meu sangue escorreu na mata
o meu cabelo ardeu na fogueira
o meu hímen rompeu-se na camisa

penduraram-me na árvore pelos pés
para dar o exemplo às presas
padeci como Prima Notte

e encarnei-as todas soltando-me
e levantei-me coberta de lama
e recolhi as setas envenenadas

lavei o corpo com água de sálvia
cosi a pele com crina de cavalo
das minhas ancas nasceram diamantes

não há máscaras brancas de penas
não há salamandras de cal e lama
não há peixes-gato de seis patas
não há alma que me venha insinuar
...
porque este corpo já está fechado!

walk your line

When the sun rises
on the House of Eight
And the moon is squared
You have got yourself a borderline:

You are the centre of your own universe
And your body is your laboratory and empire
Make it good, visible and useful
Crossover, cross all lines, people
Justify your love, your actions
Be rational, steadily successful
Be aware you will need to suffer
and you will need a near death experience
or a deliberate self-mutilation moment
But you will be good, gentle, passionate
Your goal is to live fast and good
Sometimes you wish to devour everything,
those are the days of hegemonic thinking
Expose yourself if you need to test another
Be a low profile if you can avoid
your temperamental constitution
This is your charm and divine protection
Search deeper knowledges and analyse yourself
Keep control of everything, information is vital
Do not search revenge but feel free
To make an outstanding performance if needed
You have the production, direction, script and leading role,
make your life a worthy movie or stay quiet in your suburban
existence with all the shit of normality passing by your door.

quarta-feira

preto, branco, vermelho

Pensais que meu coração foi talhado
no mármore do Tártaro
mas estais redondamente enganado
Que essa língua de vinagre e fel
Ó bellator bárbaro
não prova do meu leite e mel
Sonegais cuspindo neste chão
a mais dura guerra
sem conheceres outra legião
E batalhais pela anciã moral
com escudos de madeira
mas atenta que a guerra final
É travada à mesa de tabuleiro
com olhares de ferro
e o desfecho certeiro
pertence ao jogador da arte
que dispensa o reino
só pretende jogar: shāh māt!

terça-feira

em cada letra

na esfera de tinta
em cada letra
se imprimem cem mil compósitos que
em cada letra
são pontos em movimento que
em cada letra
se inscrevem com quem escreve
em cada letra
no papel
como a vida
efémero

linhas tecidas à mão
cozidas no forno de pão
caseiras, sumidas
com fermento e pólvora
se explodem,
picantes,
na sinestésica visão
do leitor deliciado

quero imprimir-te os anos
e cem mil poemas na pele
desses olhos tatuados a preto
tintos, meu vinho, minha vida,
beber-te a delicadeza
suave suor
teus beijos de odor
menor meu cheiro, gustavo,
maior teu ser amado,
cercado

caneta-me de tinta permanente
palavra sentida, expressa,
meu café, meu cigarro, meu vício,
detonado
teus seios de amor
filia-me
nas arestas de dor
erotiza-me
cajado de carne
guia-me
no teu interior
sodomiza-me
o ego, a líbido, o córtex

mata-me, impede-me, suga-me
sorvete servido, sorvido
congelado, mantido
mantenho-me
rendido
venero a tua veia,
tua ceia,
vampiriza-me
crucifica o caracter
no teu ídolo majéstico

reinado de terror
governa-me
sanitário ditador
interna-me
na tua camisa de forças
aperta-me
com teu choque eléctrico
manipula
estes cordéis

tua oferenda, esta marioneta,
incerta
sensor infravermelho
carrega
a bateria, fraca,
deste aparelho viciado
mentor angélico
deste cigano diabo
arquétipo maior, aristotélico,
sem género
carnívoro predador
radicaliza-me
no teu oxigénio
em cada letra
do teu gene magnético