sábado

Pessoa

Por falar em Francês
Vi a pessoa que entrou
Seu vinagrette desamarelado
Verbavando Seu Rimbaud

Por falar em Francês
Vi une pessoa re-alaranjada
Sua Cointreau imperial
Parecia bem-apeçonhada

Por falar em Francês
Vi a pessoa que matou
Seu aspirador-projéctil
Poésie à la cozinha Artaud

Por falar na pessoa
Vi um francês no plateau
Pegando a Poésie-ventríloca
Foi ele que personne matou.

quarta-feira

Terra do Antes

Lá na terra do antes
O amarelo formava o pano de contra-mão
Lá na terra do antes
Os terraços afundavam sem ver o furacão
Lá na terra do antes
Os pedaços de ninguém eram logo do chão
Lá na terra do antes
Os amassos eram mercados de doce mamão
Lá na terra do antes
As galinhas comiam caviar mingau de pão
Lá na terra do antes
O depois foi surrado e morto pelo Então
Lá na terra do antes
Tudo desmoronava se tomava sim com não

navegando à distância

Navio naufragado do amor
Não parte é glória quente
Os peixes brotavam do mar
Como fios de coral da serpente
Oh sereia do mar: meu canto
Teceu sua roupa mais íntima
Como teceria a pele carnuda
Deste pulsante coração
Quem me vem desgovernado
Sem medida para amamentar
As bocas da vida dos amantes
Toda as tropas de luar
Por todos se fazem querer
Me fazem querer andar
Sem dizer aos informantes
Este é meu naufragar

terça-feira

Do lugar

Vai para um lugar
Onde a largura supere o comprimento
E os cumprimentos todos
Eles desnecessários
Superem a altura dos teus contrários
E onde os contrariados
Todos eles necessários
Superem a profundidade dos seus cenários
E onde os cénicos desprovidos de contexto
Superem os santos dos seus relicários
E onde as relíquias com seu pretexto
Alcancem os seus deuses
Dos seus próprios imaginários
Vai para um lugar
Onde não estejas.
Sejas.

A estocástica ficção duma polpa de tomate

E a polpa perguntou:
se o cano for canónico,
a cona é cónica?
Logo
o coma é cómico
logo
a cola é cólica
logo
é lógico?
Ele é trigo
Joio de vivre
Crónica de Portugal
(des) composto
Nome começamos por D
Todos em Linha
Canetas Roxas
Unhas avermelhadas
Duas riscas de luz
7 tiros na Torre
Uma grande avestruz
Mostarda
No sofá
No banco
Na mesa na cadeira
Esparguete com camarão
E a polpa de tomate?
A noite foi dura
Morte de Jane Grey
Tarântula criatura do Lago
- Get Carter -
Massys, Vermeer, Delaroche
I coca so cógita
“Padeceu de paixão ilíaca”
Se eu me vier
Logo vómito
L’Elixir du Mont St. Michel
Le Rhum St. Christophe
La Route de Saint Gapour
E polpa de tomate?
Não se aceite da mãe
A lata da Deeta
Pérola e cigarros
- Revival nights -
AF Inc.
Numa fábrica escondida
Em qualquer Texas
A fachada é a indústria
Duma Polpa de tomate

Da condição

Se a flecha da vida em nada te satisfaz
Se o moinho da Boémia água cereal traz
Se a inércia da física a nada te conduz
Se a ânsia paragem o dilema te seduz
Se no lume molhado a chama descende
Se no vértigo desmoído o fio se desprende
Se da carroça desgovernada o boi não se retarda
Se no baixo insonor a palheta não se agarra
Se o credo do trabalho ao aro não acorre
Se no caderno diário o roto nada foge
Se o andar condicionado na rua não fica
Se a tua vida em nada pratica
É porque o nada com nada se desfaz
Espera!
Eventualmente morrerás.

Tic-tac c'est tactique

Oh Tic-tac:
You make so táctil

Onde estava o tempo
Quando a hora veio embora
Quanta flor-de-minuto
Se este espinho me demora
Quanto pau dessa arara
Voa na linha de prata
Onde estava o espaço
Quando o tempo veio agora
Quanta espada-meto-à-cinta
Se essa régua me esfola
Quando a coça dessa vara
Espalha o sangue da lata
Onde foi o relógio da rosa
Dos ventos da mata
Tic-tac chicote de tempo
Erva daninha brota do cio
Tic-tac do gato-grilo
Palha suja baixo o mio
Tic-atc unhas na carne
Som desgarrado no frio
Tica-tac de neve caindo
Lago segundo de arrepio
Onde estava o anel desflorado,
Quando o tempo me largou no altar?
Quanta era o broto de laranjeira,
Onde a inocência me deixou escapar?
Se o tempo e o lugar
Fogem em dois tempos e em três passos
Vai por aí
Como quem vai
No outro tempo do outro lugar
...
Eles me fazem
Tactique