sábado

Do nojo

Um dia acordei esputrefacta
Acreditei que com uma faca e um alicate
Pudesse cortar fora uma perna que não pertencia ali
Acreditei que com uma navalha e uma pinça
Pudesse retirar os seios que não eram dali
Acreditei que com fios de cobre e uma agulhas de crochet
Pudesse re-coser estes bocados de novo no corpo
Mas estava esputrefacta
Eu não sentia nada.
Tudo era pus.
Pus era podre.
Eu era uma gangrena, só cortável não cosível.
Certo é que sabia a razão.
Gostava de me injectar com botulinas vivas,
O simples e o bovino gritavam de patogenicidade,
Gostava de saber que a minha ira cuspia esmegma
O amável e o fóssil destilavam uma certa cropoporfiria
Nada ali era puro.
Puro não era limpo.
Límpido era real.
Real era uma pessoa decantada na dissolução do nojo,
Esse que as pessoas vestem negras por altura da morte.