A Troika da excrecência humana:
Vómito, Diarreia, Suor.
A febre pode ser poética,
O ranho dramático,
e o pus uma forma verbal...
Mas nada supera a combinação que dá direito a uma triologia.
E pensar que em mim me vejo
...cai no poisoning
Pensei que os hedonitas anarquistas eram imunes
ou charmingly auto-imunes
mas talvez
- como em todos os padrões se alcança sempre o paradoxo maior -
sejam os mais vulneráveis
Não por risco, mas determinante, da saúde e falta dela.
Passemos ao narrador.
Tudo começa quando menos se espera como uma invisível gota que cai em potência num copo cheio algo já estaria fragilizado e temos o azar de comer algo catalogado como fresco e até biológico mas que não foi bem curado ou conservado ou cozinhado ora a gente come isto e durante um tempo satisfaz-se e apraz o gosto até dá aquela sensação de enfartamento cardíaco mas depois de umas quantas viagens e a vida e o cansaço de mais do mesmo junto à turbulência é inevitável o primeiro enjoo procuramos ir até ao cubículo sanitário tentar atribuir causas aos efeitos expelir algo à força mas nada e então quando mais se espera novamente já prevenidos pela sensação pegamos no saco recipiente ou qualquer auxiliar salivando a espera é tortuosa e quase já sentimos os suores a taquicardia não da boa mas da tensão quebrada e vai dai já aterramos e já passou o momento e é depois da turbulência que vem o vómito primário aquele de 300 ml que ainda assim já supera o limite internacional é possível que como no meu caso este vómito seja sinalizador de que houve um forte ataque ao sistema embora o anarco-hedonista não tenha e vai dai vomitei já à frente das mãe e do professor provavelmente uma das poucas regras existentes para uma vida minimamente conforme passando a preposição depois ingressados na viagem de volta sobre rodas com menos delongas e chegamos ao destino de um hotel simpático acolhedor dá-se um corrida infernal ao primeiro sanitário disponível para o vómito exorcista aquele que desentope tudo e os sistema sujando tudo em volta procurando livra-se do patogénico infiltrado passados um cigarros e alguma auto-comiseração percebemos que se deu ali alguma alívio indo para o quarto em busca de descanso no descaso da progressão esperando acordar no dia seguinte e eis que se dá o vómito major onde já não há sólidos nem líquidos toleráveis e pensamos “bem algum alívio se deu aqui” mas como controleiros que somos pensamos “é melhor trazer o balde para junto da cama” e trazemos e logo nesta medida de precaução somos surpreendidos pela diarreia ultra-líquida gasosa e putrefacta bom a mérda do agente bacteriano platónico passou a barreira e já nos atravessou à segunda via e voltamos para a cama mas eis que chegámos ao deserto da desidratação bebemos bebemos bebemos bebemos para ver se acalma a coisa litros muitos imensos demasiados só já não é suficiente porque uma vez bem intoxicados vem o vómito do nada para encher o balde aproximado aquele que sai qualquer coisa que entre ar nada água nada o que for altura em que começamos a sentir calor suores frios taquicardias a febre instala-se o delírio é complexo não conseguimos dormir no quarto porque já não passamos da latrina quando fechamos os olhos de tão cansados por breves instantes sonhamos com frutas deliciosas: laranjas, melão, limão, alperces, goiabas, uvas, morangos, framboesas, romãs e a nossa mente devora-os a todos individual e colectivamente acordamos e continuamos com sede e com febre vómito e diarreia e vamo-nos deixando ficar e suamos e sujamos e cheiramos mal começamos a abdicar da individualidade auto suficiente em alguma momento recorrendo aos outros para justificar a ausência a uma ocasião importante recorrendo ao outro para que cuide de nós recorrendo ao outro para admitir que precisamos de ajuda para superar o estado e algum alquimista sensato diz que o processo de exorcização não deve ser interrompido apenas repor o sal mineral etc e tal tomamos um destes de sabor e aroma odiosos de soro eventualmente até nos acalmando ventre igualmente eventualmente temos um belo serviço de quartos que nos traz à caminha o sumo de laranja e as frutas com que sonhámos apetecidas colas para superar a desistência do líquido em nós e repousamos até tare mas até quando acordamos sentimo-nos algo sujos suados o vómito passou mas cheira e há vestígios do crime em mais que um lugar é patético sim tomamos um banho de banheira e tiramos da cara o morto vivo para jantar fora aguenta-se um sopa uns sumos de amora framboesa e uma espécie de aveia do planeta vegan que nem deveria ser chamada de comida queríamos o creme bruille tostado no malte mas achamos que é demais pedindo um miserável sorvete trocado por sabor de canela bastante bastardo razoável mas do qual só vai metade face à sobremesa do outro alguns entretanto deliciados com um pavé de chocolate negro e ruibarbos acabando por nos resignarmos à nossa condição de momento onde o ilustre mete conversa e o menos ilustre da pronúncia peculiar nos explica como foi atacado nas duas vias pelas ostras e rimos rimamos aliás o jantar ainda se aguenta chove torrencialmente porra não mérda disse o ilustre pois que de mérda estava a falar embora controlando tudo e não se controla nada e meteorologia não é especialidade aceitamos dar umas corridas à chuva dando passas num cigarro desfeito acompanha o mestre correr ou andar é o mesmo quando se chega igualmente encharcado [apresento a teoria dos -10º frio bastante frio muito frio ou imenso frio são igualmente abaixo disso sempre o mesmo frio de mérda] voltamos para o quartinho mais quentinho com um adaptadorzinho e bate um soninho e bate o amor líquido da diarreia e lá vamos cem mil vezes ao cubículo mal-cheiroso com o cu em sangue ferido sabendo que é civilizado limpar e lavar aí que nos pomos a pensar o quanto aquele dejecto é amarelo aquoso putrefacto e purulento olhando para ele com a ayenção de quem já está olhando o infinito da sanita reparando que só temos memso é de puxar autoclismo das outras vezes não temos é forças para apertar o botão ou puxar a manivela ou o cordão acabando por co-habitar na mérda mas há um ponto em que já apertamos o rabo controlando a cagada e já nos dói menos o cu e até percebemos que aguentámos o jantar o pequeno-almoço o almoço e outro jantar mais apetecível do tailandês mas era exigir demais ficamos que ele no estômago ainda perto do esófago vamos vendo podemos sentir-nos até bulimic-chic ou escato-limpos bonito é ir à retrete que fica na toillette e escrever uma metáfora de mérda sobre intoxicação alimentar estilo ‘underwater love’ enquanto nos borramos borrifamos rimos rimamos e que esta cena de ‘poisoning’ vai lubrificar varrer a corrupção do sistema proporcionar o novo eu o antigo e assim se faz biopolítica
P.S. só o pensamento de um certo alimento acondicionado ao calor e luz mal confeccionado me dá azia sabendo-me perspicaz pude identificar que era aquela forma mole de ‘pastelaria-pastiche-de-nouvelle-cuisine-muito-cheap’ que me havia dado a volta à entranha estranha manha